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COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

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Em 2008, quando realizávamos pesquisa utilizando o CMS, ainda s<strong>em</strong> interesse <strong>em</strong> aspectos<br />

reprodutivos, observamos que ratas prenhes expostas a esses estressores apresentaram<br />

comportamentos atípicos <strong>em</strong> relação à prole, tais como redução dos cuidados parentais ou mesmo a<br />

eliminação (completa ou parcial) dos filhotes (infanticídio). Em pesquisa posterior, que igualmente<br />

não tinha por objetivo verificar aspectos reprodutivos das ratas, observamos outros dois fatos<br />

inesperados: (1) ratas alojadas para cópula durante o tratamento do CMS não foram fecundadas e<br />

(2) aquelas que copularam e foram posteriormente expostas ao CMS apresentaram reduzida taxa de<br />

procriação. Estes fatos – que a princípio colocaram-se como obstáculos aos objetivos da pesquisa <strong>em</strong><br />

curso – chamaram a atenção dos pesquisadores pela sua relevância. A partir destas observações, foi<br />

montada no nosso laboratório uma linha de pesquisas dedicada à investigação sist<strong>em</strong>ática dos efeitos<br />

da exposição ao CMS sobre diferentes aspectos reprodutivos de ratas.<br />

Pesquisando na literatura, encontramos que desde a Antiguidade são feitos relatos acerca dos<br />

efeitos adversos da relação entre estresse e função reprodutiva (Adams, 1939). A partir da década<br />

de 40 do século passado, período marcado por guerras na Europa, foram feitos os primeiros relatos<br />

acerca da associação entre estresse e quadros prolongados de amenorréia, ou seja, ausência de<br />

menstruação, com conseqüências diretas sobre a fertilidade (Drew, 1961; Sydenham, 1946). Um<br />

pouco mais tarde, um estudo com camundongos d<strong>em</strong>onstrou a relação entre estresse e interrupção<br />

da prenhez (Weir & De Fries, 1963). Mais recent<strong>em</strong>ente, Baker, Kentner, Konkle, Barbagallo e<br />

Bielajew (2006) d<strong>em</strong>onstraram que a exposição ao CMS reduziu a frequência do estro e prolongou<br />

a fase do diestro <strong>em</strong> ratas, sendo que o ciclo teve sua regularidade gradativamente retomada após<br />

término do tratamento.Pesquisas recentes também apontaram para alterações no comportamento<br />

sexual <strong>em</strong> função da exposição a estressores agudos e crônicos (Donadio, 2007; Uphouse, Hiegel,<br />

Perez & Guptarak, 2007; White & Uphoouse, 2004; Yoon, Chung, Park & Cho, 2005).<br />

A reprodução natural depende de uma interação complexa entre os sist<strong>em</strong>as nervoso e reprodutivo<br />

(produção de gametas e óvulos, por ex<strong>em</strong>plo), cujo funcionamento entende-se ser regulado diretamente<br />

por variáveis ambientais que pod<strong>em</strong> atuar favoravelmente ou prejudicar a função reprodutiva<br />

(Marcondes, Bianchi & Tanno, 2002). Portanto, o uso de modelos experimentais que mimetiz<strong>em</strong><br />

possíveis condições ambientais estressoras pode representar uma importante contribuição científica,<br />

ao permitir ampliar o conhecimento acerca da relação entre estresse e aspectos reprodutivos. Muitos<br />

estudos sobre a relação entre estresse e probl<strong>em</strong>as reprodutivos utilizam fêmeas de ratos, visto que<br />

esta espécie apresenta ciclo reprodutivo muito s<strong>em</strong>elhante ao humano (com a diferença que nos ratos<br />

é de quatro a cinco dias, e nos humanos <strong>em</strong> torno de 28 dias), com ovulação cíclica e espontânea que<br />

independe de atividade sexual (Marcondes et al, 2002).<br />

O uso do termo ‘estresse’<br />

Estresse é um termo que v<strong>em</strong> sendo utilizado na ciência há muito t<strong>em</strong>po, sendo bastante comum<br />

na atualidade. A alta frequência de probl<strong>em</strong>as comportamentais a ele atribuídos t<strong>em</strong> gerado forte<br />

d<strong>em</strong>anda social por pesquisas que auxili<strong>em</strong> a esclarecer e a tratar os desconfortos atribuídos a<br />

este fenômeno. Sensíveis a essa busca, muitas pesquisas se debruçaram sobre o t<strong>em</strong>a, abarcando<br />

investigações sobre suas supostas causas e efeitos, buscando terapias farmacológicas ou psicológicas.<br />

Entretanto, a maioria desses trabalhos carece de uma definição mais precisa sobre o que seja seu<br />

objeto de estudo, tratando o termo ‘estresse’ como se a sua mera menção fosse auto-explicativa<br />

quanto aos seus significados. Embora a literatura sugira um aparente acordo entre os teóricos de<br />

que o estresse é um fenômeno que implica desconfortos e sofrimento para qu<strong>em</strong> o experimenta,<br />

há variações nas tentativas de definições quanto ao que é estudado: alguns destacam um conjunto<br />

de reações fisiológicas, outros refer<strong>em</strong>-se a respostas, a estímulos ou às interações entre ambos<br />

(Kerbauy, 1990).<br />

Carmo . Franceschini . Hunziker<br />

Comportamento <strong>em</strong> Foco 1 | 2011<br />

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