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COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

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Comportamento <strong>em</strong> Foco 1 | 2011<br />

Neves . Santos . Araújo . Borges . Quinta . Martins<br />

466<br />

dos relatos como possíveis causas do sobrepeso e obesidade dessas crianças e pré-adolescentes,<br />

d<strong>em</strong>onstrando que estes são capazes de identificar a multicausalidade envolvida no estabelecimento,<br />

explicação e tratamento da obesidade. Em mudanças necessárias e realizadas, os fatores nutricional<br />

e as atividades físicas foram os mais selecionados, indicando, <strong>em</strong> uma análise generalizada destas<br />

três variáveis, que o fator nutricional está presente com maior freqüência <strong>em</strong> todas, dados esses<br />

também encontrados com crianças <strong>em</strong> Santos et al. (2009) e Neves et al. (2007) numa amostra de<br />

mulheres acima do peso. Cabe ressaltar que as freqüências relativas obtidas no presente estudo <strong>em</strong><br />

cada fator são produtos de uma tentativa de identificar as principais causas, as mudanças necessárias<br />

e as mudanças realizadas sob o ponto de vista das crianças, dados os fatores que abarcass<strong>em</strong> toda a<br />

multiplicidade de possibilidades por área de conhecimento. A análise das correspondências foi feita<br />

utilizando as sentenças de forma independente, o que, apesar da divisão arbitrária e didática dos<br />

dados <strong>em</strong> categorias/fatores, não prejudicou a análise das correspondências.<br />

Pode-se questionar, por ex<strong>em</strong>plo, por que “comer para com<strong>em</strong>orar” tenha sido classificado<br />

como um ex<strong>em</strong>plo de fator causal psicológico e não social. Dada a inexistência de metodologia<br />

especifica na análise do comportamento para estudar a questão proposta neste estudo, optou-se pelo<br />

desenvolvimento dos questionários utilizados, adotando-se o modelo de categorização proposto por<br />

Coolican (2004). Tal classificação, no entanto, considerou a noção causal nos diversos níveis apontados<br />

por Skinner (1981) e as possíveis maneiras de intervir no probl<strong>em</strong>a, justificando assim a criação<br />

dos fatores: biológico, que busca cont<strong>em</strong>plar o nível de causação filogenético; nutricional, atividade<br />

física e psicológico, que cont<strong>em</strong>plam o nível de causação ontogenético; e o social relacionado ao<br />

nível cultural. Skinner (1981) aponta que os diferentes níveis de causação atuam concomitant<strong>em</strong>ente,<br />

afirmativa esta que pode ajudar a explicar a dificuldade encontrada na distribuição precisa das<br />

respostas dentro das categorias.<br />

Foram encontrados altos índices de correspondência dizer-dizer entre todas as varáveis. A maior<br />

correspondência foi encontrada no fator biológico, seguido pelo fator psicológico e social. De forma<br />

geral, os altos índices de correspondência suger<strong>em</strong> a existência de uma relação entre as variáveis<br />

estudadas.<br />

A correspondência dizer-dizer entre relatos de causa, relatos de mudanças necessárias e relatos<br />

de mudanças realizadas obtida a partir da análise do relato verbal das crianças não é a mesma que<br />

a correspondência entre o que elas diz<strong>em</strong> ser a causa de seus probl<strong>em</strong>as de sobrepeso e obesidade<br />

e o que já de fato fizeram para solucionar o probl<strong>em</strong>a (correspondência fazer-dizer). Ser capaz de<br />

descrever o nosso próprio comportamento é definido por Skinner (1957) como autoconhecimento.<br />

Tourinho (2006), ao discutir a questão do autoconhecimento no Behaviorismo Radical, sugere que<br />

<strong>em</strong> 1969 Skinner estende o conceito de autoconhecimento, entendendo-o como o comportamento<br />

de descrever não só nosso próprio comportamento privado, mas também o comportamento público.<br />

Assim, “o indivíduo está consciente quando descreve seu comportamento e/ou as variáveis que o<br />

controlam” (Tourinho, p.63). Os resultados do presente trabalho levam a questionar se estes relatos<br />

significam, de fato, autoconhecimento, já que a metodologia usada não permite verificar as reais<br />

variáveis de controle dos comportamentos públicos e privados envolvidos no comportamento<br />

alimentar dos participantes. Há, no entanto, que se considerar que a necessidade de correspondência<br />

entre fazer e dizer para se definir autoconhecimento parece também ser uma questão ainda não<br />

resolvida pelos analistas do comportamento (Tourinho, 2006).<br />

As respostas das crianças, apontando várias causas, suger<strong>em</strong> um tipo de consciência da<br />

multicausalidade do probl<strong>em</strong>a do sobrepeso. Da mesma forma, apontar que se precisa agir sobre<br />

vários fatores também aponta uma consciência da necessidade de um trabalho multidisciplinar. Mas<br />

a pergunta que <strong>em</strong>erge é se, na coleta dos dados, o instrumento pode ter induzido as crianças a<br />

distribuír<strong>em</strong> suas respostas sobre as causas de suas condições, nos diferentes fatores. Metodologias<br />

apropriadas dev<strong>em</strong> ser utilizadas para verificar tais induções.

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