13.04.2013 Views

COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Tabela 2<br />

História clínica de Pérola<br />

Primeira Infância (0 a 10 anos)<br />

Gestação e parto normais. A caçula de uma prole de nove irmãos. Pai s<strong>em</strong>pre amargurado por ter abandonado<br />

tudo <strong>em</strong> São Paulo e fugido para Goiás, <strong>em</strong> decorrência do medo de ser internado, quando se descobriu<br />

com hanseníase. Por consequência, perderam condição econômica. Mãe submissa, costureira e s<strong>em</strong>pre que<br />

atrasava a entrega das costuras, recolhia-se <strong>em</strong> seu quarto, mandando dizer a suas clientes que não estava.<br />

Dormia dias seguidos. Infância pobre, porém feliz; nunca com<strong>em</strong>orou aniversários; e ganhou presente de<br />

natal uma única vez, de um irmão. Dois de seus irmãos contraíram hanseníase, vindo a óbito. Pérola ficou<br />

órfã de pai aos 10 anos de idade.<br />

Adolescência e Adulto Jov<strong>em</strong> (10 a 21 anos)<br />

Adolescência tranquila, s<strong>em</strong> d<strong>em</strong>onstração de afeto entre os m<strong>em</strong>bros familiares: “Éramos cada um por si.”,<br />

salientou. Por ser muito magra, tinha complexo de feiúra, o que a levou a usar roupas só com mangas. Não<br />

se relacionava b<strong>em</strong> com a mãe, não a obedecia e não dava satisfações de suas ações. Aos 18 anos teve sua<br />

primeira experiência sexual, s<strong>em</strong> preparação alguma: foi a uma festa, conheceu um rapaz e já naquela noite<br />

o acompanhou a um quarto, onde tiveram relações sexuais. “Não lhe disse não, pois t<strong>em</strong>i que me achasse<br />

muito comportada. Então, fiz sexo por isto, e não senti nada de prazer.”, relatou. No dia seguinte, o rapaz<br />

a deixou num ponto de ônibus. “Senti-me muito mal, mas não contei nada a ninguém. Apenas tentei não<br />

pensar mais naquela noite.” De outro relacionamento s<strong>em</strong> envolvimento afetivo, engravidou; e novamente<br />

não lutou por seus direitos. “Sentia-me feliz. Não pensei nas consequências da gravidez.”. Quando seu filho<br />

estava com oito meses, começou a trabalhar como recepcionista e cursar a faculdade de Letras, à noite.<br />

Gostava de quebrar regras tradicionais da época, falando s<strong>em</strong>pre gostar de ser mãe solteira e não ser casada,<br />

mas dentro de si acalentava o sonho de se casar e ter uma família. Ao mesmo t<strong>em</strong>po sentia-se desvalorizada<br />

e discriminada por todos de sua convivência.<br />

Adulta (22 a 55 anos)<br />

Aos 27 anos foi trabalhar e tentar uma nova vida <strong>em</strong> São Paulo, aí permanecendo por quatro anos. Período<br />

<strong>em</strong> que deixou seu filho aos cuidados do pai, sendo que o mesmo mal o conhecia. Nessa época fez dois<br />

abortos voluntários. Aos 34 anos conheceu um militante político, muito carinhoso: “Ele me fazia sentir-me<br />

valorizada. Então, me casei com ele s<strong>em</strong> amá-lo.”. Após um ano e meio o mesmo foi assassinado durante<br />

um assalto. Depois do ocorrido ficou 13 anos s<strong>em</strong> se relacionar com nenhum outro hom<strong>em</strong>. Também<br />

deixou de trabalhar, quando passou a viver de sua pensão de viuvez para dedicar-se exclusivamente ao<br />

filho esquizofrênico. “Carrego uma culpa enorme por sua doença e por tê-lo abandonado por quatro anos,<br />

quando o mesmo começou adoecer.”. Aos 48 anos conheceu seu último companheiro e o relacionamento<br />

foi explosivo desde o início, pois o levou para dentro de sua casa e assumiu todas as suas despesas. Em<br />

troca, recebia agressões verbais ferindo a sua autoestima. Quando buscou apoio na Clínica Escola de<br />

Psicologia, havia cinco meses que se separara, porém, continuava a pagar a despesas do ex-companheiro,<br />

<strong>em</strong> detrimento de suas necessidades básicas.<br />

Queixas<br />

Ao chegar para este estudo a participante queixava-se de (a) angústia constante, (b) solidão intensa,<br />

(c) não conseguir ver o lado bom da vida, (d) não aceitava a condição de paciente esquizofrênico do<br />

filho e, por conseguinte, (e) não mantinha uma relação minimamente de qualidade com ele, (f)<br />

autodepreciava-se e (g) não sabia solucionar probl<strong>em</strong>as, s<strong>em</strong>pre fugindo ou se esquivando.<br />

Resultados dos inventários da Bateria de Beck<br />

A Tabela 3 mostra os resultados dos inventários da Bateria de Beck, tanto da Linha de Base quanto<br />

da Avaliação Final.<br />

Os dados da Tabela 3 d<strong>em</strong>onstram que Pérola obteve níveis leve de depressão <strong>em</strong> ambas as fases de<br />

investigação (08 e 05, respectivamente). Porém, no BAI apresentou nível moderado de ansiedade na<br />

Linha de Base (21) e mínimo na Avaliação Final (10).<br />

Comportamento <strong>em</strong> Foco 1 | 2011<br />

Gornero . Bueno<br />

249

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!