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COMPORTAMENTO em foco - ABPMC

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espeito da opinião moralista dos amigos cria um suspense para o leitor, que não entende claramente<br />

(até o momento da conversa sobre os jogos) se os argumentos são “sinceros” (se realmente são as<br />

variáveis que controlam a resposta dos amigos) ou não.<br />

Ao final do conto, pode-se inferir que os argumentos apresentados pelos amigos de Paulo na<br />

tentativa de convencê-lo a adiar a decisão de separar-se, <strong>em</strong>bora aparent<strong>em</strong>ente estivess<strong>em</strong> sob<br />

controle de valores morais, estavam, de fato, sob controle de estímulos antecedentes (proximidade<br />

dos jogos solteiros versus casados, Paulo é o goleiro do time dos casados, notícia da separação de<br />

Paulo) que <strong>em</strong> conjunto diminuiriam a probabilidade de que o time dos casados obtivesse bons<br />

resultados no campeonato. Pode-se inferir que a “intenção” dos amigos era que Paulo continuasse<br />

casado para assim poder continuar jogando futebol com eles no time dos casados. Nesse sentindo, o<br />

título do conto “Os Moralistas” é, de certa forma, irônico, pois, <strong>em</strong>bora topograficamente de cunho<br />

moralista, os argumentos moralistas foram utilizados como instrumento de convencimento, dado o<br />

interesse <strong>em</strong> continuar tendo Paulo como goleiro no time dos casados. Assim, pode-se inferir que o<br />

conteúdo da argumentação utilizada não necessariamente corresponde aos valores morais adotados<br />

pelos amigos. Contrariamente, é possível dizer que o comportamento dos amigos de Paulo foi imoral.<br />

Partindo da análise de Skinner (1957) de que o responder verbal é um comportamento operante<br />

estabelecido e mantido por contingências de reforço, pesquisas experimentais têm estudado o relato<br />

verbal como variável dependente. Tais pesquisas (que analisam, por ex<strong>em</strong>plo, a correspondência<br />

entre dizer e fazer) apresentam dados que indicam que manipulações realizadas nas consequências<br />

de determinado relato pod<strong>em</strong> aumentar ou diminuir a acurácia do relato dos participantes (e.g.,<br />

Ribeiro, 1989). A complexidade no controle de estímulos do relato verbal dos amigos apresentada no<br />

conto vai ao encontro desses dados experimentais. Os argumentos dos amigos pod<strong>em</strong> ser analisados<br />

como um mando, por ex<strong>em</strong>plo, por estar<strong>em</strong> sob controle de variáveis motivacionais.<br />

Por variáveis motivacionais pode-se entender estímulos que devido alguma operação ambiental têm<br />

o seu valor reforçador alterado momentaneamente. Este é o conceito de operações estabelecedoras<br />

(Michael, 1982). A proximidade dos jogos de verão, juntamente com a dificuldade de conseguir um<br />

substituto para o posto de Paulo, pod<strong>em</strong> ter estabelecido o valor reforçador de Paulo como goleiro.<br />

Esta também é uma alternativa de análise para o controle do comportamento dos amigos de Paulo.<br />

É possível ainda que os argumentos dos amigos colocaram o responder de Paulo sob controle<br />

de regras (da descrição verbal dos ‘valores morais’ defendidos pelos amigos, por ex<strong>em</strong>plo) e não<br />

necessariamente sob controle das contingências. Desse modo as possíveis consequências aversivas<br />

que seriam produzidas pela separação diante de uma comunidade verbal moralista (estímulo<br />

antecedente) provavelmente contribuíram para a decisão de adiar a separação, como apresentado<br />

anteriormente neste texto, de forma esqu<strong>em</strong>ática.<br />

O conto permite também especular sobre a questão do autocontrole. Conforme Hanna e Todorov<br />

(2002), autocontrole envolve: uma resposta controlada (Rc) que é parte de uma ou uma combinação de<br />

contingências que programam reforço e punição para a mesma resposta; uma história individual que<br />

estabelece propriedades aversivas para Rc; e uma resposta controladora que modifica algum aspecto<br />

das condições ambientais envolvidas no controle de Rc, produzindo mudança na probabilidade de<br />

Rc. Paulo estava inicialmente decidido a separar-se de Margarida, pois, como considerado durante o<br />

texto, a separação teria como consequência a r<strong>em</strong>oção da estimulação aversiva (relacionamento com<br />

Margarida). Essa decisão mudou ao longo do texto porque os argumentos dos amigos adicionaram<br />

possibilidade futura de perda de outros reforçadores com a separação. Assim, pode-se dizer que,<br />

impulsivamente, Paulo separar-se-ia, mas a consideração de manter reforçadores <strong>em</strong> longo prazo o<br />

fez adiar a separação, possivelmente envolvendo autocontrole. Neste caso, a conversa com os amigos<br />

pode ter sido a história que estabeleceu propriedades aversivas para a resposta controlada de separarse<br />

que anteriormente, para Paulo, só produziria consequências reforçadoras.<br />

Grisante . Xavier . Fernandes . Debert<br />

Comportamento <strong>em</strong> Foco 1 | 2011<br />

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