Estudos de philologia mirandesa - Esycom

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pois Cérceno representa o lat. *quercínus, *quercenu-,
tendo-se junto a quercus o suffixo -ínus,
como em faginus (de fagiis)^ que tanto é adjectivo
como substantivo. De *quercinu- passou-se para
*kércinu-> *cércino> *cérceno>:'
mir. Cérceno
port. arch. Cérceo > mod. Cércio.
Todas estas transformações convém com as leis do
romanço^^. Segundo vimos a p. 42, a Quercus rohur
é uma das arvores dominantes na Terra-de-Miranda
por isso o etymo que proponho, se está de accôrdo
com a phonetica e a morphologia, também o está com
a geographia botânica. — A comparação de Cérceno
com Cércio móstra-nos a exactidão da regra exposta
adeante, quanto á manutenção do n intervocalico em
mirandês, e á sua suppressão em português.
Outras palavras da mesma familia linguistica são
Cercal, Cercosa, Cerqueda, Cerquedo, Cerqueira, Cer-
queira, Cerquida, Cerqmdo, Cerqiiidello, que se encon-
tram mais ou menos por todo o país.
GicouRO. Pôde escrever-se em português Cicoiiro e
Cicoiro, como Douro e Doiro, ouro e oiro, noute e noite.
Em geral, na nossa lingoa, o ditongo oi reflecte a pronúncia
popular, o ditongo ou a pronúncia litteraria.
' A
mudança do i postonico em e podia ter-se dado antes da
mudança de qu- (k-) em c-; nesse caso a série das formas era:
*kercenu- > *cérceno.
2 Sobre que- > *ke- > *ce- vid. por exemplo:
Diez, Grammaire des langues romaties, i, 244;
Meyer-Lvibke, Gravunatik der rotnanischen Sprachen, i, 2 -^01;
Ascoli, Una lettera glottologica, p. 14;
Gaston Paris, in Annuaire de VEcole pratique des hautes eludes,
i8g3, p. 33.
Com relação ao caso que nos interessa, notarei que já no latim
vulgar se encontra cercua < *quercua (quercus): vid. Wilhelm
Meyer, in Grundriss der romanischen Philologie, de Gròber, i, 362.
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