Estudos de philologia mirandesa - Esycom

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Do que neste capitulo tenho escrito até aqui resulta
que na historia de Miranda se distinguem manifestamente
quatro períodos capitães:
1.°— desde não se sabe quando, até o sec. xiii (pri-
vilegio de D. Dinis), — período em que Miranda era
aldeia ignóbil;
2.°— desde o sec. xiii até o sec. xvi (impulso de
D. João III),—período de progresso;
3.°— desde o sec. xvi até o sec. xviii (transferencia
do bispado),— período de relativo esplendor;
4.°— desde o sec. xvin até á actualidade,— período
de declinação rápida.
A extincção do ínirandês corresponde ao terceiro
período, com quanto já o terreno para ella começasse,
como disse, a preparar-sc no segundo. Quando a cidade
prosperava, o idioma desapparecia; um facto era con-
sequência do outro, porque, perante a lingoa portu-
guesa, ao mesmo tempo litteraría e nacional, a miran-
desa não passa de falia local, caçurra ou charra, que
só se emprega nos usos domésticos, e não podia aspirar
a servir de órgão ás pastoraes dos senhores bispos de
Miranda, nem a ser entoada do púlpito da sé cathedral
pelos doutores, ou pelos abbades, em sermões de mara-
vilhosa doutrina', nem ensinada nas aulas por mestres
' Pelo menos tenho noticia de um sermão pregado no principio
do sec. XVIII. É a Oração fúnebre nas exéquias do illuslrissimo e
reverendíssimo senhor D. João Franco de Oliveira, arcebispo-bispo
de Miranda, magnificamente celebradas na cathedral da mesma
cidade a 26 de Agosto de 17 j 5, por Manoel de Matos Botelho,
abbade de Duas-Igrejas, Lisboa 17 16.
Diz Barbosa Machado, Bibliot. Lusit., s. v., que este A. escreveu
várias poesias que queimou. Versos d'elle em latim vem porém
publicados, como notei, no Xeniolum: vid. supra, p. 143.