Estudos de philologia mirandesa - Esycom

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brado em duas dioceses, tornando Miranda outra vez a
ser sede de uma, e tendo por bispos, primeiro D. Ma-
noel, e depois D. Miguel, que resignou heroicamente a
mitra, do que resultou ficarem, por bulia pontifícia de
1780, unidos os dois bispados num só, com a sede na
cidade de Bragança, como ainda hoje estão'; este appa-
rente rejuvenecimento de Miranda-do-Douro não podia
pois ser mais ephemero!
Corre na tradição de várias pessoas da localidade que
um bispo que soífreu dissabores em Miranda escrevera
o seguinte soneto satyrico em que se pinta com negras
cores um quadro da cidade (reproduzo os versos com
as incorrecções com que os encontrei):
Muralhas e paço derrubados,
Quatro centos vizinhos, mil prejuros2,
Vinte infançôes, trezentos villões puros,
Um castello sem tiros nem soldados.
Julgadores d'El-Rei. . . três desterrados,
Vistas d'arredores. . . penhascos duros;
Sem fontes nem jardins dentro dos muros,
Uma alfandega, casa de malvados.
' Vid. Cónego Manoel António Pires no citado Opúsculo de
considerações históricas sobre a edificação da cathedral de Bra-
gança, pp. 26-29.
2 [I. é, quatro centos (número redondo) fogos, e mil (número
redondo) habitantes. Na tradição oral do Minho andam ditados
populares com sentido conceituoso como o d'este soneto
Santa Eulália de Terrões S. Martinho de Leitões
São 29 fregueses . Vinte e nove fregueses
E com o abbade E trinta ladroes. .
São trinta cabrões.
Vide Revista Lusitana, iv, 187, artigo do Sr. A. Thomás Pires, que
cita um ditado estrangeiro análogo.— J. L. de V.].
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