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Estudos de philologia mirandesa - Esycom

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Não <strong>de</strong>correram muitos dias que eu não estivesse<br />

em óptimas relações <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> com o feliz estudante<br />

que faliava a lingoa <strong>de</strong> Miranda, o meu querido Manoel<br />

António Branco <strong>de</strong> Castro, meu Espirito-Santo miran-<br />

dês, por cujo intermédio pu<strong>de</strong> addicionar á carta lin-<br />

guistica da Europa neo-latina mais um elemento.<br />

Combinámos reunirmo-nos um dia feriado, para eu<br />

começar o meu trabalho <strong>de</strong> investigação. Foi este dia<br />

um domingo, d tar<strong>de</strong>. Branco <strong>de</strong> Castro morava numa<br />

republica para os lados <strong>de</strong> Cedofeita, e lá tivemos a<br />

primeira reunião. Nunca me esquecerá tal domingo!<br />

Cada individuo tem as suas datas célebreíí: um, porque<br />

lhe nasceu um filho; outro, porque recebeu uma he-<br />

rança. Para mim o dia em que pela primeira vez na<br />

minha vida ouvi fallar seguidamente mirandês, e em<br />

que esbocei as primeiras linhas da sua grammatica,<br />

constitue também uma viva memoria. Consintam os<br />

leitores esta pequena expansão a quem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1876,<br />

quasi não pensa noutra cousa que não seja a história da<br />

boa terra lusitana, particularmente no seu lado ethno-<br />

logico e linguistico, e quasi não aspira a mais nada,<br />

senão ao gozo <strong>de</strong> contribuir para o vasto thesouro da<br />

sciencia com um facto ou uma i<strong>de</strong>ia nova, embora <strong>de</strong><br />

mo<strong>de</strong>stas proporções.<br />

Branco <strong>de</strong> Castro, reclinado sobre a cama, no seu<br />

pequeno quarto <strong>de</strong> estudante, recitava vocábulos, conjugava<br />

verbos, <strong>de</strong>clinava nomes; eu, sentado numa<br />

ca<strong>de</strong>ira ao pé, ia apontando fervoroso tudo o que lhe<br />

ouvia, e que para mim era como aquellas maçãs <strong>de</strong><br />

ouro que, segundo um conto popular bem conhecido,<br />

saíam da boca <strong>de</strong> uma virgem bem fadada, quando<br />

faliava ao seu noivo.<br />

Num quarto vizinho estavam alguns estudantes tocando<br />

guitarra, e entre elles o meu prezado amigo<br />

Joaquim Maria <strong>de</strong> F^igueiredo, conceituado pharma-<br />

ceutico nesta cida<strong>de</strong>, o qual ainda hoje falia nisto; os<br />

estudantes interromperam a musica, e vieram ouvir.

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