Estudos de philologia mirandesa - Esycom

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tra bem a feição portuguesa da cantiga; em segundo
lugar notarei que, devendo ser consoante a rima das
quadras, ella é toante na segunda,— còradinha-madriria,
o que é outra prova do que digo. Segundo as leis do
mirandês, o suff. lat. -inu-, origem do port. -inho,
devia dar naquelle idioma -ino, como também deu em
hespanhol: cf. campanina no § 172, e os outros exem-
plos do § 109; logo -inho não é mirandês.
178. Os suffixos mirandeses -ico e -ito são suffixos
vivazes; isto é: o povo emprega-os com a consciência
plena de que forma com elles deminutivos reaes das
palavras a que os junta. Estas como que mudam de
flexões. Ha porém outros suffixos em que a força vital
desappareceu (cf, § 172): são, por assim dizer, sombras
do que foram. Só a analyse philologica descobre nelles
o caracter de suffixos; o povo não os sente como taes.
Temos em mirandês um exemplo d'isto na palavra
fachuco (vid. p. 285 e nota), que significa «lumieira,
archote»: aú fachuco de palha acéfoy>\ fachuco decompõe-se
em fach-uco. O mesmo suffixo se encontra em
hespanhol nas seguintes vozes: peluca (de pelo), almen-
druco (de almendro), hayuco (de haya), fabuco (de
faba), frailuco (de frailé), hermanuco (de hermano),
pajaruco (de pajaró)\ em português é raro'.— Sobre
-tico cf. Meyer-Liibke, Grammaíik der roynanischen
Sprachen, 11, § 499.
Outra palavra mirandesa em que poderá ver-se também
um suffixo é raparugo, que alterna com raparigo,
masculino de rapariga, cuja origem está porém ainda
por averiguar.
Tanto em fachuco, como em raparugo, ha certamente
tal ou qual ideia de depreciação, como é vulgar
com suffixos d'esta espécie.
' Por ex. : em certas terras do Norte diz-se Maruca, deminutivo
de Maria.