Estudos de philologia mirandesa - Esycom

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Fica d'essa maneira justificado, pela geographia phy-
sica, pela lingoa e pelos costumes, que a denominação
de Terra-de-Miranda é muito natural. Felizmente, já
depois do que escrevi, pude haver á mão cópia de um
importante documento existente na Torre do Tombo,
o qual vem confirmar que Miranda foi na Idade-Média,
como o seu nome ainda hoje indica, uma terra, no
sentido exposto acima. Nas Inquirições mandadas fazer
em Miranda por D. AlTonso III falla-se de um Fer-
nandiis Fernandi, isto é, Fernando, Jilho de outro Fernando\
que no tempo de D. Sancho II tenebat terram;
como no documento se está tratando da terra de Mi-
randa, que .em vários pontos do mesmo vem mencionada
por extenso, — tota terra de Miranda, e também
in terra de Miranda — , não ha dúvida que a terra
que teve por tenente a Fernandus Fernandi era realmente
a de Miranda-.
Passarei agora a especificar todos os lugares em que,
tanto no concelho de Miranda-do-Douro, como no de
Vimioso, se falia actualmente mirandês, o que forma
o assumpto principal d'este capitulo.
' Na Idade-Média a filiação indicava-se, até certa epocha, ora
pelo genetivo do nome paterno, como aqui, ora pelo genetivo de
um derivado do nome paterno,— genetivo em -ici ou -if ; assim o
referido nome Fernandus tomava, a par de Fernandi, a forma
genetiva Fernandici (== Ferdinandici), de onde, através de Fernandi^,
veiu a actual forma Fernande^, que menos exactamente
costuma hoje escrever-se Fernandes. As vezes um e o mesmo documento
offerece exemplos dos dois processos de denominação:
num do sec. x, publicado nos Port. Mon. Hist., «Dipl. et Chart.»,
p. 14, lê-se, V. g. Gundisalvus Sesmondi, Teton Adefonsi, Alvitus
LuciDi (primeiro processo), e Didacus Fernandiz, Munia Alvitiz,
Rodericus Fernandiz, onde está -if por -ici (segundo processo).
2 Este documento é o mesmo de que fallo a cima, a p. 38.