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Estudos de philologia mirandesa - Esycom

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12<br />

Mal chegámos lá, e nos <strong>de</strong>sempoeirámos e refizemos,<br />

o meu amigo Hranco <strong>de</strong> Castro, em cuja casa me hos-<br />

pe<strong>de</strong>i, pòs-mc em relação com todas as pessoas do povo,<br />

— Duas-Igrejas é povo exclusivamente <strong>de</strong> lavradores—<br />

e eu, applicando por um lado o meu ouvido, e por<br />

outro lado escrevendo rapidamente a lápis o que apa-<br />

nhava, comecei o meu trabalho <strong>de</strong> investigação linguis-<br />

tica, o qual se prolongou por muitos dias.<br />

Ás vezes era <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um cabanhal, on<strong>de</strong>, á sombra,<br />

se reunia um rancho <strong>de</strong> molheres a trabalhar: uma<br />

dizia-me um conto, outra uma canção; não posso aqui<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar o nome <strong>de</strong> uma gentil rapa:{a,<br />

chamada Maria Amara, ou em mirandês Maree'Mara,<br />

que foi uma das minhas melhores collaboradoras. Ou-<br />

tras vezes, á noite, tomava lições com um lavrador,<br />

que, por ser <strong>de</strong> certa ida<strong>de</strong>, e muito curioso, possuia na<br />

memoria todo o léxico; a certas horas sentia eu bater<br />

á porta do meu quarto : era elle, o facundo Mirandês,<br />

que trepava, como um gato, pela varanda pegada, e<br />

vinha leccionar-me ; nunca o esquecerei,—alto, embu-<br />

çado na capa d'houras, todo vaidoso e todo contente<br />

por me ensinar a sua Ihengoa.<br />

A lingoa miran<strong>de</strong>sa é puramente doméstica, por assim<br />

dizer, a lingoa do lar, do campo e do amor: com um<br />

estranho o al<strong>de</strong>ão falia logo português. Como porém<br />

em Duas-Igrejas todos sabiam ao que eu ia, faliavam<br />

mirandês comigo, e, quando eu por acaso lhes dirigia<br />

a palavra nesta ultima lingoa, cllcs riam-se muito, por-<br />

que achavam o caso um pouco singular.<br />

Com uma espécie <strong>de</strong> modéstia os habitantes <strong>de</strong> Duas-<br />

Igrejas dizem que quem falia mirandês yb/a mal, fala<br />

charro^ e que quem falia português, fala í^rabe, ou<br />

em grabe. Também a pessoas <strong>de</strong> Cércio ouvi dizer que<br />

' Note se que o eh <strong>de</strong> charro se pronuncia explosivamente, quasi<br />

como tx.<br />

,

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