Estudos de philologia mirandesa - Esycom

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moral, c não se colhe ordinariamente lucro material
nenhum— ', aquellcs raros que se sentem attrahidos*
para as lutas da intelligencia se vejam muitas vezes
obrigados a dedicar-se a mais de um assunto, do que
resulta encontrarem-se em Portugal a cada passo, e
em todas as epochas, escritores polygraphos, que, como
Manoel Sevcrim de Faria, cultivam grande variedade de
estudos.
A litteratura pátria no sec. xvn está em decadência,
como o espirito da nação: basta recordar que domina
nella o gongorismo, salvando-se apenas, do naufrágio
geral, Rodrigues Lobo e Francisco Manoel, um pelo
estudo aturado que havia feito da antiga litteratura
latina, e da portuguesa do sec. xvi, o outro pela sua
vasta illustração, adquirida sobretudo em viagens^ o
P.^ António Vieira é também, na oratória e na epistolo-
graphia, phenomeno singular. Em compensação, porém,
do mau gosto e abatimento litterarios, apparecem muitos
trabalhos de erudição, e planeia-se com a Monavchia
Lusitana dos monges de Alcobaça um quadro
geral da Historia de Portugal, embora sendo Faria e
Sousa, com o Epitome e a Europa Portuguesa, quem
primeiro esboça, a seu geito, esse quadro de modo com-
pleto, desde Tubal, neto de Noé, até Philippe III de
Portugal, «el mayor príncipe de la tierra»! Os traba-
lhos de erudição do sec. xvn resentem-se frequente-
mente de falta de critica, inventando Fr. Bernardo Brito,
que nisto se distanceia enormemente dos Brandões,
seus successores, muitos documentos falsos, adornando
de fabulas Faria e Sousa os seus livros, e deleitando-se
Fr. Luis de Sousa com a narrativa de anedoctas á
I «Nacer en Portugal para esperar ventura por ingeniosas y
elegantes letras es desventura. Ingenio português bien lo pueden
procurar todos, pêro aplausos y prémios portugueses nadie los
procure». Manoel de Faria e Sousa, Europa Portuguesa, t. i.
(1678), p. 9.