Estudos de philologia mirandesa - Esycom

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Se as condições para que em Miranda decaisse o
mirandês datam já do sec. xiii, do impulso que D. Dinis
deu á villa, e crescem acaso no sec. xv, em tempos
de D. João I, é porém nos meados do sec. xvi, em
1645, quando Miranda foi feita sede de bispado e cidade,
e a ella acudiram populações de fora, e no seu viver
se introduziram grandes alterações, que a decadência
se accentua verdadeiramente. Comprehende-se que esta
não fosse rápida, porque nem os velhos, nem os adultos
abandonavam de repente o seu idioma nativo, — apenas
as crianças deixavam de o aprender— ; de facto elle,
meio século depois, em 1606, por occasião da viagem
de Faria, ainda, segundo mostrei, se fallava na cidade.
No sec. xviii Miranda experimentou novas mudanças,
mas d'esta vez muito más, e taes que lhe trouxeram a
desgraça.
Em 8 de Maio de 1762, quando o exercito hespanhol
cercava a cidade, uma explosão fez ir pelos ares a
maior parte do castello, que desde então ficou em
ruinas; morreram cerca de quatrocentas pessoas'.
Em 1763 o bispo D. Fr. Aleixo de Miranda Henriques
resolveu transferir a sua residência, e com ella a
capital do bispado, para Bragança, o que levou a cabo
em 7 de Março de 1764, vindo a confirmação papal em
1776^. — O bispado de Bragança foi em 1770 desmem-
1 No livro parochial dos assentos dos óbitos da freguesia de
Miranda existe uma notícia d'este acontecimento, a qual mais de
uma vez tem sido transcrita. Vide um artigo do Sr. Freire Pimentel,
in O Archivo Pittoresco, v, 181-182, onde ao mesmo tempo se pu-
blica uma estampa das actuaes ruinas do castello.
2 Vide sobre isto:
Pinho Leal, Portugal ant. e mod., s. v. «Miranda-do-Douro».
Freire Pimentel, loc. cit.
Cónego Manoel Pires, Opúsculo de considerações históricas sobre
a edificação da cathedral de Bragança, Porto i883, p. 24 sqq.