Estudos de philologia mirandesa - Esycom

i65
da pátria, a lingoa não é dos menos fortes'. Os Mirandeses,
sentindo-se, como se sentem, senliores de uma
lingoa sua, — la nossa Ihengoa, conforme elles dizem—
amam com maior intensidade o torrão natal ; e este amor
da Terra-de-Miranda, com a sua capa de honras, os seus
pauliteiros, o seu dialecto próprio, não chega ao ponto
de produzir ódio ao resto do país, nem cousa que se
pareça com isso: pelo contrário, os Mirandeses tanto
reconhecem a superioridade da lingoa portuguesa, que
lhe chamam grabe, dando humildemente á indigena os
modestos nomes de charra e caçu7Ta!
A estas razões com que pugno por que o mirandês
se conserve, as quaes apoio ainda no meu próprio exem-
plo, pois alguma cousa tenho feito praticamente em prol
d'elle, accresce outra, que é a curiosidade de nós os
Portugueses possuirmos num canto de província uma
como ilha linguistica, onde umas 10:000 pessoas nas
suas relações domesticas se servem de uma falia que
no quadro geral dos idiomas românicos do Noroeste
da Ibéria tem, como provarei adeante, feição tão pró-
pria e tão sua. A Hespanha conta, ao lado do hespa-
nhol ou castelhano, o gallego, o asturiano, o catalão,
o bízcainho; a França conta, não fallando no francês,
também o bízcainho, e de mais a mais o provençal, o
catalão, o bretão, e uma infinidade de patois muito dís-
tinctos entre si; na Itália contam-se com o italiano nu-
merosos dialectos e co-dialectos locaes, bem específicos,
alem do catalão, do grego, do albanês. E assim por
deante. Em Portugal temos pouco, é certo; conservemos
no emtanto esse pouco!
I Cf. o que a este respeito escrevi na Numismática Nacional
(lição inaugural), 1888, pp. 18-19; ^ "^ Revista Lusitana, iii, 24-27.
,