Estudos de philologia mirandesa - Esycom

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Observação i.*—O ditongo !e é um dos sons mais
diíficeis de apreciar no mirandês. Ora se afigura como
o represento, — e é este o phenomeno normal — ; ora
parece ser ee (ou fçe?)', ora parece simplez e. A ten-
dência de muitas pessoas, quando faliam depressa, é
dizerem e; todavia, na falia clara, o f é manifesto,
mesmo nessas pessoas. O primeiro elemento do ditongo
!ç é, segundo se disse no C 8, uma semi-vogal : ouve-se
pouco mais ou menos também no Porto e pelo Minho
na syllaba íé de quicnte, piéra, mas não é tão distinto
como o i do ditongo te nas palavras hespanholas tiempo,
qiiiero, nem como o /' das já citadas (§ 8) palavras por-
tuguesas Jiel, quieto. — Em alguns dos meus antece-
dentes escritos sobre o idioma mirandês figurei este
som por iê e por tê, escrevendo por ex.: tíêrra e
tiêrva em vez de tíerra.
Observação 2.^ — O ditongo tio não é normal na falia
mirandesa; só se ouve em emphase ou voz pausada
(vid. § 2, no o). Eis aqui uma serie de exemplos que
ouvi a dois indivíduos, um da Póvoa, outro de Duas-
Igrejas: em falia normal, — bpno, costa, dpl-me, fogo,
pbo, rtie {=roe)\ em emphase, — bCipno, cúosta, diiolme,
fúpgo, úpbo, rime {=rihe). (O meu amigo Gonçalves
Vianna também verificou esta distinção). Eu já nos
meus anteriores estudos tinha notado que umas vezes
se ouvia o, outras tló, mas não tinha descoberto a lei
d'esta distinção, a qual me parece ser a que fica indi-
cada, isto é, — depender do tom emphatico ou normal
da falia. Como o som normal é p, indico-o nos textos
sempre assim'. O ditongo t°íô é etymologico, como direi
adeante, e parallelo a te.
• Fica d'esta maneira explicada a apparente incoherencia que,
por exemplo, nas Flores mirandesas se nota em diíôl-me, iiòrto e
olho, e interpretado o que digo na Rei'ista Lusitana, v, 197.