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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

Compromissos e tensões entre o indivíduo e o seu grupo familiar de origem, eis o<br />

que os documentos <strong>no</strong>tariais <strong>no</strong>s evidenciam. Mas esta <strong>emigração</strong> pela distância e pelo<br />

tempo que envolve, traduz uma maior vulnerabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s estratégias familiares que lhe<br />

são subjacentes. Os processos de comunicação interrompem-se por largo tempo, as<br />

remessas são incertas e às vezes nunca chegam. Emigração de longa distância precipita a<br />

emancipação dos filhos em relação ao poder paternal, pelo que os ressentimentos mútuos<br />

ou o apego existente vêm ao de cima na hora de balanço que o testamento sempre<br />

representa. Por isso se alguns referem as verbas envia<strong>da</strong>s pelos filhos emigrantes para<br />

comprar parcelas de terre<strong>no</strong>s, construir partes de casa, pagar dívi<strong>da</strong>s ou, simplesmente,<br />

para sustento e eventuais aflições, numa demonstração de preocupação e afecto, outros<br />

apenas têm para ajustar as contas <strong>da</strong> parti<strong>da</strong>, "por conta de seu quinhão", e não poucos se<br />

lamentam por não terem <strong>no</strong>tícias deles há muitos a<strong>no</strong>s ou por na<strong>da</strong> terem lucrado com a<br />

<strong>emigração</strong> que promoveram.<br />

Neste contexto regional de grande mobili<strong>da</strong>de, a <strong>emigração</strong> para fora do Rei<strong>no</strong><br />

emerge, assim, como uma <strong>no</strong>va oportuni<strong>da</strong>de <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong>s estratégias familiares que<br />

visavam a distribuição profissional. Inicialmente de natureza colonial, contribuiu para a<br />

"dinâmica do açúcar" 55 , tendo <strong>no</strong> ouro <strong>da</strong>s Minas o primeiro grande atractivo massivo e,<br />

na sua sequência, a activi<strong>da</strong>de comercial <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des portuárias brasileiras em<br />

crescimento. Nos meados do século XVIII já a documentação histórica (sobretudo, as<br />

listas de ordenanças, como vimos <strong>no</strong> capítulo anterior) regista <strong>no</strong>minalmente uma<br />

presença massiva de homens do litoral portuense <strong>no</strong> Brasil. No século XIX, perante a<br />

independência do Brasil, será a continui<strong>da</strong>de e a mu<strong>da</strong>nça, mu<strong>da</strong>nça de que os agentes<br />

principais - emigrantes e famílias - se tar<strong>da</strong>m a aperceber em to<strong>da</strong> a sua dimensão,<br />

embora os primeiros, em grande quanti<strong>da</strong>de, a sintam na pele logo que tocam o lado de<br />

lá do Ocea<strong>no</strong>.<br />

"Mundo cheio" versus "mundo vazio", para utilizarmos de <strong>no</strong>vo as expressões de<br />

Chaunu, ou seja: de um lado, o denso Noroeste português, a que a revolução do milho<br />

permitira um rápido crescimento populacional; do outro, o Brasil, espaço a apropriar e<br />

prenhe de promessas. Espaço conhecido desde o século XVI, do qual vinham <strong>no</strong>tícias por<br />

um número ca<strong>da</strong> vez maior de portugueses <strong>da</strong> região minhota, pois como diz Orlando<br />

Ribeiro, são os "comedores de broa" a grande massa <strong>da</strong> <strong>emigração</strong>, desde o século XVI<br />

aos <strong>no</strong>ssos dias56 . Nestas circunstâncias, o modelo dos vasos comunicantes acabaria por<br />

55 CF. GODINHO, Vitori<strong>no</strong> Magalhães, "Portugal, as frotas do açúcar e do ouro (1670-1770)", in Ensaios,<br />

Vol. II, Lisboa, Sá <strong>da</strong> Costa, 2ª ed., 1978, pp. 423-448.<br />

56 Cf. RIBEIRO, Orlando, Aspectos e Problemas <strong>da</strong> Expansão Portuguesa, Lisboa, Junta de Investigações<br />

do Ultramar, 1962, p. 28. Para o autor, a zona dos "comedores de broa", ou seja, o espaço de difusão do<br />

milho como cultura predominante, vai do Minho ao Mondego.<br />

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