15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 205<br />

sejam a <strong>emigração</strong> de trabalho, as visitas de turismo ou as deslocações para efeitos de<br />

estudo <strong>no</strong> estrangeiro. As visitas de turismo 27 eram, então insignificantes, sob o ponto de<br />

vista quantitativo e tinham como desti<strong>no</strong> quase único a Europa, embora seja possível<br />

observar o desfile de um ou outro "<strong>da</strong>ndy" conhecido, de intelectuais cotados (Antero de<br />

Quental, Alberto Sampaio, Rodrigues de Freitas, em 1878, provavelmente para a<br />

Exposição Universal de Paris) e de alguns "brasileiros" de <strong>retor<strong>no</strong></strong>. Essa insignificância<br />

assumia ain<strong>da</strong> maior proprie<strong>da</strong>de nas deslocações para estudo, que se resumiam aos<br />

filhos de algumas famílias burguesas, como aconteceu com os do banqueiro Santos Silva<br />

(do Banco Comercial do Porto), os do negociante Pinto Basto ou casos isolados como o<br />

de Soares do Reis para Itália, além dos descendentes de famílias de raiz estrangeira aqui<br />

radica<strong>da</strong>s. De raiz sociológica diferente <strong>da</strong> subjacente à <strong>emigração</strong> de trabalho, estas<br />

migrações não tinham significado estatístico. Mas a Europa era ain<strong>da</strong> o desti<strong>no</strong> para<br />

outros emigrantes, <strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente a Espanha e a Inglaterra, como ramificações de casas<br />

comerciais e, <strong>no</strong> primeiro caso, algum trabalho braçal, incluindo ofícios mecânicos28 .<br />

Para África, naturalmente para as colónias portuguesas, cuja especificação <strong>no</strong>s<br />

registos era rara, a corrente reduz-se a um fio muito débil, contabilizável anualmente com<br />

o algarismo <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de até 1853, bastando as dezenas quase até ao final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 80.<br />

Só por essa altura o movimento se multiplica, situando-se <strong>no</strong> patamar <strong>da</strong> centena de<br />

parti<strong>da</strong>s anuais, retrogra<strong>da</strong>ndo, de vez em quando, às dezenas29 . Recorde-se que, <strong>no</strong>s<br />

inícios de 80, já <strong>no</strong> distrito de Lisboa se registavam 3 a 6 centenas anuais de parti<strong>da</strong>s para<br />

África, cerca de metade <strong>da</strong>s que <strong>da</strong>í se destinavam ao continente america<strong>no</strong>, segundo a<br />

estatística oficial. Este facto não deixa de ser eluci<strong>da</strong>tivo <strong>da</strong> carga histórica que pesa<br />

sobre os desti<strong>no</strong>s <strong>da</strong> <strong>emigração</strong>, mantendo-se o Porto fiel à tradição, mesmo quando<br />

começavam a surgir alternativas.<br />

27 A criação de registos próprios para os passaportes de turismo só se iniciou em 1896, embora se<br />

interrompesse a série em 1906 (por deixar de ser necessária o passaporte para estas deslocações pela lei de<br />

25 de Abril de 1907), retomando-se em 1928.<br />

28 A <strong>emigração</strong> intra-europeia de trabalho, se esquecermos as migrações tradicionais para a Espanha, só<br />

ganha significado quantitativo durante a 1ª guerra mundial, com a parti<strong>da</strong> para França de cerca de 16000<br />

pessoas (operários, alguns dos quais com famílias), entre os fins de 1916 e 1918, para assegurar a<br />

produção na rectaguar<strong>da</strong> militar, além de dois milhares para Inglaterra. Naturalmente, o movimento<br />

continuou <strong>no</strong> pós-guerra, enquanto não chegaram os sinais depressivos <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 30. Cf. ALVES, Jorge<br />

Fernandes, "Operários para França e Inglaterra (1914-1918) - Experiências <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> portuguesa intraeuropeia",<br />

Revista <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Letras - História, II Série, vol. V, Porto, 1988, pp. 317-333.<br />

29 Entre 1896-1907, a <strong>emigração</strong> para África passa a ser registado em livro próprio, saindo <strong>da</strong> série de<br />

registo de passaportes que vimos utilizando, em virtude de passarem a ser gratuitos (Lei de 23 de Abril de<br />

1896). A partir de 1907, deixa de exigir-se o passaporte para o Ultramar. Naquele intervalo contaram-se<br />

1642 parti<strong>da</strong>s (1448 homens e 194 mulheres), numa média anual de 140, com desti<strong>no</strong>s maioritários para<br />

Angola e Moçambique (A.G.C.P., Livro de registo de passaportes para África, nºs 3519-3520).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!