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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 311<br />

acalmia política. Muitos "brasileiros" dos meados do século passado são um resultado<br />

directo deste contexto de insegurança, fruto ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>s sequelas <strong>da</strong> independência, sem<br />

ligação com o eventual projecto migratório.<br />

Esmorecendo esta turbulência na segun<strong>da</strong> metade do século, apesar de surgirem<br />

ain<strong>da</strong> <strong>no</strong>vos episódios, o <strong>retor<strong>no</strong></strong> passa a então a ter um significado mais ligado a<br />

projectos pessoais de <strong>emigração</strong> e aos contextos e conjunturas em que se inserem. Por<br />

isso, salvo casos muito raros, não produzirá a vin<strong>da</strong> de brasileiros tão ricos como os<br />

<strong>da</strong>quele período, confirmando-se a <strong>no</strong>rma, já verifica<strong>da</strong> em diversos estudos, de que o<br />

<strong>retor<strong>no</strong></strong> não é assumido pelos emigrantes que experimentaram um grande insucesso, nem<br />

tão-pouco pelos que tiveram um grande sucesso e a<strong>da</strong>ptação à <strong>no</strong>va socie<strong>da</strong>de, mas,<br />

principalmente, pelos de situação intermédia. Embora de riqueza mais modesta, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s<br />

setenta, os "brasileiros" ou simples "abrasileirados" distribuíam-se por todo o espaço<br />

distrital, raro sendo a freguesia que não tivesse pelos me<strong>no</strong>s um "brasileiro", a apontar o<br />

exemplo do Brasil como desti<strong>no</strong> a seguir, de que muitas vozes oficiais os acusavam.<br />

Naturalmente que surgiam espaços de maior atracção para os "brasileiros" de<br />

<strong>retor<strong>no</strong></strong>, pois nem sempre se dirigiam à sua terra natal. Se os me<strong>no</strong>s endinheirados o<br />

faziam, na sequência de curtos ciclos emigratórios e aí retomavam a sua faina anterior,<br />

com alguma reformulação, fruto <strong>da</strong> injecção do capital que consigo traziam, os que<br />

possuíam mais dinheiro dirigiam-se de preferência para o Porto (para já não falarmos em<br />

Lisboa, cujos "brasileiros" do século passado eram, em grande parte, de origem<br />

<strong>no</strong>rtenha) ou para as vilas dos respectivos concelhos, lugares de maior visibili<strong>da</strong>de<br />

social, mas também mais conformes ao horizonte comercial a que se tinham habituado <strong>no</strong><br />

Brasil, pois grande parte retomava directa ou indirectamente o comércio.<br />

Assim, a ci<strong>da</strong>de do Porto era de longe o maior local de concentração de<br />

"brasileiros", não admirando que Júlio Dinis, numa descrição já clássica, lhes atribuísse<br />

um dos três bairros administrativos em que a urbe se dividia: "O bairro oriental é<br />

principalmente brasileiro, por mais procurado pelos capitalistas, que recolhem <strong>da</strong><br />

América." 26 Se muitos tinham aí o seu palacete, muitos outros se disseminavam pela<br />

ci<strong>da</strong>de, em casas indistintas <strong>da</strong> maioria, e outros viviam mesmo em pensões e hotéis,<br />

alguns dos quais eram mesmo de "brasileiros", como, por exemplo, o Grande Hotel do<br />

Porto27 . Impossível, porém, avaliar com um mínimo de rigor o volume demográfico dos<br />

26 DINIS, Júlio, Uma Família Inglesa - cenas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do Porto, Porto, Livraria Civilização, s/d, pp. 41-42.<br />

(Publicado inicialmente em folhetins, <strong>no</strong> Jornal do Porto, em 1866).<br />

27 Criado por Daniel Martins de Moura Guimarães, o qual, "grangeando <strong>no</strong> Brazil uma boa fortuna depois<br />

de largos an<strong>no</strong>s dedicados ao commercio, voltou á Pátria. Mas como a sua vi<strong>da</strong> de laborioso trabalho lhe<br />

não permitisse ficar inactivo, fundou aqui o Grande Hotel do Porto." (C.P. de 13.10.1894). Natural de<br />

Gondomar (Fanzeres) aparece <strong>no</strong>s registos de passaportes, em 1844, a embarcar para o Rio de Janeiro, com

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