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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 363<br />

futuro dos filhos. Outros, porém, <strong>da</strong>vam continui<strong>da</strong>de aos conhecimentos profissionais<br />

que tinham adquirido <strong>no</strong> Brasil e retomavam a iniciativa, <strong>da</strong>do não aceitarem ain<strong>da</strong> a<br />

retira<strong>da</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> activa, procurando com a sua dinâmica o proveito económico e o<br />

prestígio social a ela inerente.<br />

Em tais circunstâncias alguns desenvolvem mesmo uma acção claramente<br />

i<strong>no</strong>vadora <strong>no</strong> campo <strong>da</strong>s fábricas, apostando nas vias do maquinismo para optimizar a<br />

produção e a rentabili<strong>da</strong>de. Por exemplo, na Exposição Industrial de 1861, <strong>no</strong> Porto,<br />

surge, entre as várias fábricas de curtumes representa<strong>da</strong>s, uma que já aplicava o vapor - a<br />

"Fonseca & Ferreira", resultante <strong>da</strong> recuperação <strong>da</strong> antiga e conheci<strong>da</strong> fábrica do Esteiro<br />

de Campanhã. Em estado de quase ruína foi compra<strong>da</strong>, por 1859, por Caeta<strong>no</strong> José<br />

Ferreira, brasileiro de Cedofeita, e Inácio Pinto <strong>da</strong> Fonseca. Passado cerca de um a<strong>no</strong>,<br />

ain<strong>da</strong> em fase de obras e de instalação de maquinismos, já se apresentava com um<br />

importante sortido de couros na Exposição e capaci<strong>da</strong>de para curtir 12 mil couros por<br />

a<strong>no</strong>. Com um mestre francês, utilizava uma bomba portátil para extrair a água dos<br />

tanques, e uma máquina a vapor de 12 cavalos, que permitia várias operações<br />

automáticas (moer a casca, lavagem e batimento <strong>da</strong>s solas), triplicando, por exemplo, a<br />

superfície de sola em relação aos batimentos manuais122 .<br />

Também a fábrica de sabão do Freixo se apresentou com características<br />

i<strong>no</strong>vadoras na Exposição de 1861 e com o simbolismo de representar um caso exemplar<br />

<strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de de produção, pois para funcionar teve que esperar pela abolição do<br />

mo<strong>no</strong>pólio do sabão123 . António Afonso Vellado (futuro Visconde do Freixo) 124 tinha<br />

apenas como capital huma<strong>no</strong> a sua experiência de 14 a<strong>no</strong>s de fabrico de sabão <strong>no</strong> Brasil,<br />

não tinha qualquer outro mestre nem operário especializado, só mais tarde admitiu um<br />

mestre espanhol. Investindo em capital fixo perto de 30 contos de réis, construiu a sua<br />

fábrica de raiz, especificamente para saboaria, com dois pisos, duas caldeiras de vapor de<br />

10 cavalos ca<strong>da</strong> e uma máquina que punha em acção uma serraria e uma bomba que<br />

intervinha directamente em seis caldeiras de ferro aonde se processava a cozedura.<br />

Começou a funcionar exactamente <strong>no</strong> dia em que foi decreta<strong>da</strong> a extinção do mo<strong>no</strong>pólio<br />

(1 de Julho de 1858) e quatro dias depois já vendia sabão a 40 e a 90 réis o arrátel e que<br />

122 SÁ, Ribeiro de, "Exposição Industrial de 1861", C.P., nº 207, 11 de Setembro de 1861.<br />

123 Recorde-se que <strong>no</strong> contrato de 1844 que levou à criação <strong>da</strong> Companhia do Tabaco, Sabão e Pólvora,<br />

teve um papel importante, entrando com capital e como administrador, um outro brasileiro do Porto, o<br />

Conde de Ferreira.<br />

124 A.A. Vellado era um caso especial de "brasileiro" endinheirado, tendo comprado o Palácio do Freixo,<br />

junto ao rio Douro, construção do século XVIII, <strong>da</strong> autoria de Nazonni, que tinha pertencido à família dos<br />

Távoras e estava na altura nas mãos do Visconde de Azurara. A saboaria seria uma instalação anexa,<br />

muito provavelmente, <strong>no</strong> local aonde hoje se situa o gigantesco edifício <strong>da</strong> moagem, obra de um<br />

"brasileiro" mais recente, que comprou por sua vez o mesmo palácio.

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