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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

a imigração de mão-de-obra pouco atreita aos trabalhos agrícolas, que não satisfazia os<br />

objectivos dos locatários. Estes começaram, então, a deixar cair o sistema de parceria para<br />

passarem a privilegiar os simples contratos de locação, individuais, numa utilização<br />

meramente salarial <strong>da</strong> mão-de-obra, mais fácil de dominar e com me<strong>no</strong>s encargos,<br />

integrando-os nas fazen<strong>da</strong>s organiza<strong>da</strong>s, em rotinas de trabalho já organiza<strong>da</strong>s. Por outro<br />

lado, a decadência <strong>da</strong>s zonas do Norte do Brasil provocou movimentos de mobili<strong>da</strong>de<br />

interna, quer de trabalhadores, quer de escravos, então vendidos em grande quanti<strong>da</strong>de,<br />

rumo às terras mais florescentes do Sul, suprindo de algum modo as necessi<strong>da</strong>des de mãode-obra,<br />

as quais só voltam a ganhar maior amplitude na déca<strong>da</strong> de 70. Em 1885, porém,<br />

esta colonização subordina<strong>da</strong> apenas aos interesses dos fazendeiros esta já completamente<br />

abandona<strong>da</strong>, segundo Caio Prado Júnior85 . Continuam as políticas de imigração<br />

subvenciona<strong>da</strong>, mas agora, era o gover<strong>no</strong> que pagava as viagens para o Brasil, através de<br />

subsídios às companhias transportadoras, e o imigrante era depois distribuído pelas<br />

fazen<strong>da</strong>s, conforme as solicitações, em regime de salariato, numa solução mais imediatista<br />

<strong>da</strong> falta de mão-de-obra, passando definitivamente para segundo lugar as preocupações<br />

com o povoamento.<br />

Se este quadro geral de recepção justificava a apreensão <strong>da</strong> opinião pública e dos<br />

gover<strong>no</strong>s estrangeiros com responsabili<strong>da</strong>des neste tipo de <strong>emigração</strong> contrata<strong>da</strong> e,<br />

consequentemente, a toma<strong>da</strong> de medi<strong>da</strong>s restritivas, sublinhemos, porém, que, os aspectos<br />

mais escan<strong>da</strong>losos se verificavam à parti<strong>da</strong>, e, neste campo, os transportadores nacionais<br />

tinham particulares responsabili<strong>da</strong>des. Ajustando com fazendeiros e agentes de colonização<br />

um prémio por cabeça, tanto mais ganhavam quantos mais emigrantes transportassem, <strong>da</strong>í<br />

que corressem riscos, sobrecarregando o navio, diminuindo às refeições e sua quali<strong>da</strong>de, às<br />

vezes em condições infra-humanas86 , utilizando os mais diversos expedientes para<br />

ultrapassar os problemas de indocumentação. Por outro lado, esta procura intensiva levava<br />

a criar redes de engajamento, muitas vezes coman<strong>da</strong><strong>da</strong>s por agentes <strong>da</strong>s companhias<br />

colonizadoras87 , que contratavam para si ou para terceiros, vindos expressamente do Brasil<br />

tinham firmado o contrato por ser esse meio o que se lhes offerecêra de passar para o Brazil, e não só isto<br />

tanto assim é, que muitos d'elles mo afirmaram, como porque facil é de acreditar, que artistas não são<br />

indivíduos competentes para se sujeitar a lavoura de qualquer natureza, e muito me<strong>no</strong>s á <strong>da</strong> canna de<br />

assucar, reconheci<strong>da</strong> pela mais pesa<strong>da</strong> de to<strong>da</strong>s ellas", in Documentos Apresentados às Cortes na Sessão<br />

Legislativa de 1874... p. 56 (Doc. 56).<br />

85 In Evolução Política do Brasil e outros Estudos, S. Paulo, Brasiliana, 1964, p.253.<br />

86 A situação estava tão generaliza<strong>da</strong> que, alguns proprietários de embarcações procuravam demarcar-se,<br />

fazendo inserir publici<strong>da</strong>de com os <strong>no</strong>mes dos passageiros a declararem as boas condições <strong>da</strong> viagem e<br />

alojamento, e a prodigalizarem os seus agradecimentos ao capitão, como é vulgar encontrar-se nas páginas de<br />

"O Comércio do Porto". Em que medi<strong>da</strong> correspondia esta prática ao desejo dos passageiros ou se tratava<br />

apenas de um abuso, não o sabemos.<br />

87 Tor<strong>no</strong>u-se particularmente polémica a acção <strong>da</strong> Associação Central Colonisadora, representa<strong>da</strong> <strong>no</strong> Porto<br />

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