15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

Uma grande parte desta população flutuante acaba por desaguar na ci<strong>da</strong>de (Porto<br />

ou Lisboa), em busca de trabalho que a industrialização incipiente que se arrasta até aos<br />

finais do século XIX não consegue distribuir com suficiência.<br />

Do êxodo rural à situação de mendicante ou marginal vai um passo, se a<br />

passagem não for efectua<strong>da</strong> de forma integra<strong>da</strong>, isto é, apoia<strong>da</strong> nas redes <strong>da</strong> soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de<br />

tradicional (família, vizinhança, compadrio), de forma a penetrar <strong>no</strong>s estreitos circuitos<br />

económicos dos ofícios, do caixeirato urba<strong>no</strong> ou dos serviços braçais e conseguir atingir<br />

o limiar <strong>da</strong> sobrevivência. A mendici<strong>da</strong>de inscreve-se, como uma chaga, <strong>no</strong> seio destes<br />

movimentos de população, conforme <strong>no</strong>s descreve Balbi, num registo moralista, para os<br />

a<strong>no</strong>s 20 do século passado:<br />

"Cette classe d'hommes [mendigos] que vivent sans rien faire est très-<strong>no</strong>mbreuse<br />

en Portugal. On les trouve partout, particulièrement <strong>da</strong>ns les grandes villes, où ils<br />

assiégent les passans <strong>da</strong>ns les rues, <strong>da</strong>ns les places, à l'église et <strong>da</strong>ns les boutiques. A<br />

l'occasion du mariage ou du baptême de quelque fils de laboureur un peu riche, on en<br />

voit devant sa porte un grand <strong>no</strong>mbre qui vivent de ses largesses. Cette grande masse de<br />

pauvres entrave doublement la population, en vivant à la charge des classes<br />

industrieuses et productives de la société, et en augmentant par leurs vices et leur<br />

ig<strong>no</strong>rance la masse des maux moraux qui influent puissamment sur la conduite du<br />

peuple" 23 .<br />

Para mais tarde, já <strong>no</strong>s meados do século XIX, é possível desenhar uma<br />

aproximação quantitativa e espacial desta mendici<strong>da</strong>de <strong>no</strong> distrito do Porto (Quadro 3.2).<br />

Sublinhe-se a necessi<strong>da</strong>de de ter em conta a conjuntura, pois os <strong>da</strong>dos existentes para<br />

1856 enquadram-se num período difícil, coincidindo com os finais <strong>da</strong> epidemia <strong>da</strong><br />

colera-morbus que varreu o País em 1855 e situando-se num período de dificul<strong>da</strong>des ao<br />

nível <strong>da</strong>s subsistências (crise de 1854-56).<br />

A imagem que se pode esboçar, para além de sublinhar a eleva<strong>da</strong> taxa -<br />

5% <strong>da</strong> população, é a de um nítido contraste entre os espaços litorais e interiores do<br />

distrito, crescendo a mendici<strong>da</strong>de à medi<strong>da</strong> que <strong>no</strong>s afastamos do vértice formado pelo<br />

mar e pela ci<strong>da</strong>de. Assim, a ci<strong>da</strong>de e os concelhos limítrofes (Bouças, Gaia, Gondomar,<br />

Maia, Porto, Póvoa, S. Tirso, Valongo e Vila do Conde) apresentam uma taxa de<br />

mendici<strong>da</strong>de até 5% <strong>da</strong> população, valor médio do distrito, na sua globali<strong>da</strong>de; os mais<br />

afastados (Amarante, Baião, Felgueiras, Lousa<strong>da</strong>, Marco, Paços de Ferreira, Paredes,<br />

Penafiel) ultrapassam largamente esse limite, com o caso extremo de Amarante que o<br />

triplica.<br />

23 BALBI, Adrien, Essai Statistique sur Le Royaume de Portugal et d'Algarve, Comparé aux Autres États<br />

de l'Europe, Paris, Rey et Gravier, 1822, pp. 238-239.<br />

95

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!