15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

simples, bastando pagar a respectiva quantia, possibili<strong>da</strong>de a que alguns emigrantes<br />

recorriam como forma de resolverem a sua situação militar e poderem voltar livremente a<br />

Portugal. Saliente-se que, desde 1877, como já se disse, a fiança era exigível a todos os<br />

me<strong>no</strong>res de 22 a<strong>no</strong>s que emigrassem sem acompanhamento familiar, porme<strong>no</strong>r que agrava<br />

ain<strong>da</strong> mais a possibili<strong>da</strong>de de emigrar dos pobres que tinham como anterior recurso a<br />

antecipação à i<strong>da</strong>de legal.<br />

Finalmente, em 1887, declara-se o serviço militar obrigatório e pessoal, admitindose<br />

apenas a substituição entre irmãos e a troca de número entre mancebos apurados <strong>no</strong><br />

mesmo concelho ou bairro do mesmo a<strong>no</strong>.<br />

A opinião geral <strong>da</strong> época, colhi<strong>da</strong> na imprensa ou em diversos autores, estabelecia<br />

uma conexão muito grande entre <strong>emigração</strong> e recrutamento, que a própria legislação<br />

confirmava. Associado ao recrutamento an<strong>da</strong>va, assim, um preconceito antigo, socialmente<br />

desqualificador, pois em vez de a recruta ser considera<strong>da</strong> uma escola de virtudes<br />

transformava-se num meio de que se desconfiava, na medi<strong>da</strong> em que os vadios e os pobres<br />

compunham o grosso <strong>da</strong>s colunas <strong>da</strong>s tropas de linha. O grande número de isenções, quase<br />

to<strong>da</strong>s associa<strong>da</strong>s à utili<strong>da</strong>de funcional <strong>da</strong>s mais diversas ocupações/profissões, levava a<br />

que, por associação, se considerasse o corpo do exército, ao nível <strong>da</strong> sol<strong>da</strong>desca, de baixo<br />

nível social, para o que também contribuía o tempo indefinido de recruta, incompatível com<br />

uma inserção profissional posterior119 . Basílio Teles dá-<strong>no</strong>s uma versão literária <strong>da</strong>s<br />

representações populares a este respeito, aonde subjaz claramente a dicotomia entre o<br />

"bem" rural e o "mal" urba<strong>no</strong>:<br />

"Aos olhos d'esses homens laboriosos e ingenuos, a vi<strong>da</strong> militar não passa de<br />

vadiagem; só serve para lhe estragar e desmoralizar o rapaz, incutindo-lhe vícios,<br />

i<strong>no</strong>culando-lhe doenças, e pondo-o na rua, afinal, sem officio e sem recursos. Quando<br />

largar a arma e as correias, - em que se ha de empregar o rapazola, desacostumado <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong> sobria e rude do campo ? Provavelmente deixa-se ficar nas ci<strong>da</strong>des, onde se casa ou<br />

se amanceba, esquecendo a aldeola e os pobres velhos ." 120<br />

Daí que a fuga às recrutas fosse uma preocupação permanente, desde a escolha do<br />

emprego até à fuga para o Brasil, consoante os casos. Se a população em geral estava ain<strong>da</strong><br />

longe de interiorizar o sentimento nacional, a ver<strong>da</strong>de é que o <strong>no</strong>vo regime político também<br />

119 Sublinhe-se o facto de o serviço militar ser em si mesmo um factor de êxodo rural, na medi<strong>da</strong> em que a<br />

vi<strong>da</strong> "emoliente" <strong>da</strong>s casernas tornava inapetecível o trabalho agrícola em fase posterior, pelo que grande<br />

número de recrutas evitava o <strong>retor<strong>no</strong></strong> definitivo à terra. Cf. PITIÉ, Jean, L'Exode Rural, Paris, P.U.F., col.<br />

Que sais-je?, 1979, p. 31. Cf. ain<strong>da</strong>, WEBER, Eugen, Peasants into Frenchmen - The modernization of<br />

Rural France, 1870-1914, Londres, Chatto & Windus, 1979, pp. 292-302.<br />

120 TELLES, Basílio, Carestia <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> <strong>no</strong>s Campos - Cartas a um Lavrador, Porto, Livraria Chardron,<br />

1904, p. 80<br />

171

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!