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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 373<br />

atenção ao seu semelhante pouco compatível com a imagem de avareza que <strong>no</strong>rmalmente<br />

envolve o capitalista. Nos finais do século, Fialho de Almei<strong>da</strong> interrogava-se mesmo<br />

sobre o contraste de comportamentos entre os milionários que sempre estiveram em<br />

Portugal e estes comen<strong>da</strong>dores de torna-viagem, que ele vê a regressarem "ingénuos e<br />

<strong>no</strong>stálgicos aos seus campanários de origem", fazendo doações vultosas a escolas,<br />

asilos, hospitais e igrejas150 . Não faltam a este respeito as insinuações de autores diversos<br />

sobre processos de penalização moral ou de "branqueamento", por via <strong>da</strong>s riquezas<br />

acumula<strong>da</strong>s com poucos escrúpulos, <strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente através do tráfico negreiro. Para os<br />

a<strong>no</strong>s 30 a 50, alguns benfeitores do Porto tiveram de facto algumas responsabili<strong>da</strong>des<br />

nesse tráfico, tendo alguns regressado <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong>s movimentações abolicionistas,<br />

como já sublinhamos. Depois, muito embora alguns capitalistas que regressaram<br />

mantivessem os seus escravos <strong>no</strong> Brasil151 , aquele aspecto ou já não se vislumbra ou está<br />

muito atenuado, com a extinção do tráfico e o crescimento do movimento abolicionista.<br />

Não podemos esquecer que, independentemente <strong>da</strong> motivação pessoal, havia um<br />

assédio muito grande a estes capitalistas, com solicitações permanentes para colaborarem<br />

e patrocinarem as mais diversas acções e instituições de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de. Mas o que mais<br />

se destaca nesta inclinação para o bem-fazer dos "brasileiros" <strong>oitocentista</strong>s é a<br />

canalização para a socie<strong>da</strong>de civil de bens e capitais que antes eram absorvidos quase<br />

exclusivamente pelas obras e instituições religiosas. Enquanto a tradição do legado<br />

visava mais a pie<strong>da</strong>de do que a cari<strong>da</strong>de, isto é, as doações a instituições estavam<br />

geralmente vincula<strong>da</strong>s a obrigações religiosas que, muitas vezes, absorviam os<br />

respectivos rendimentos, alguns "brasileiros" contribuíram para inverter os termos deste<br />

processo, aju<strong>da</strong>ndo a operar o salto qualitativo.<br />

Naturalmente que há mutações de mentali<strong>da</strong>de que aju<strong>da</strong>m a explicar esta<br />

inversão de comportamentos. Se não podemos esquecer a tradição muito portuguesa <strong>da</strong>s<br />

misericórdias que os portugueses transportaram consigo através dos mares, a ver<strong>da</strong>de é<br />

que o emigrante <strong>no</strong> Brasil do século passado vai defrontar-se com um ambiente muito<br />

cosmopolita, confrontando as suas visões do mundo com as de outros imigrantes,<br />

<strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente de origem nórdica e de religiões diferentes, mais sensíveis aos problemas<br />

urba<strong>no</strong>s e à marginali<strong>da</strong>de social que lhe são inerentes. Por outro lado, o emigrante vive a<br />

mu<strong>da</strong>nça de paisagem social, sofre na pele o fenóme<strong>no</strong> do desenraizamento em terra<br />

estranha, apercebe-se <strong>da</strong> fragili<strong>da</strong>de do apoio familiar na inserção individual em espaços<br />

150 ALMEIDA, Fialho, Os Gatos, 3º vol., Lisboa, Clássica Editora, 1947, p. 53.<br />

151 Os que deixavam proprie<strong>da</strong>des agrícolas ou comerciais entregues a procuradores utilizavam<br />

frequentemente os escravos como mão-de-obra, como era usual <strong>no</strong> Brasil escravocrata. Manuel Gonçalves<br />

de Azevedo, de Mindelo (Vila do conde) deixara nas duas casas do Rio de Janeiro, sete escravos calafates,<br />

que agora deixava forros. Cf. A.M.V.C., Livro de Registo de Testamentos, nº 3192, pp. 26vº- 28vº.

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