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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 245<br />

e sem perspectivas de ampliação, que explica a saí<strong>da</strong> dos operários, uma vez termina<strong>da</strong> a<br />

fase de aprendizagem, incapazes de satisfazer as expectativas naturais <strong>da</strong> carreira: tornase<br />

mais barato admitir <strong>no</strong>vos aprendizes (pagava-se para se aprender, recorde-se) e os<br />

oficiais recém-formados partiam para o Brasil aonde esperavam rentabilizar os seus<br />

conhecimentos profissionais. A aprendizagem torna-se, então, como já referenciamos em<br />

capítulo anterior, uma fase prévia e necessária numa estratégia de <strong>emigração</strong>.<br />

De resto, <strong>no</strong> sector dominante <strong>da</strong> indústria, o têxtil, o trabalho e a produção<br />

domiciliária, quase sempre assegura<strong>da</strong> por mulheres e crianças, eram ain<strong>da</strong> a regra,<br />

revelando o arcaísmo então vigente na indústria. Só, assim, se compreende que face à<br />

crise industrial de 1862, por falta de algodão dos Estados Unidos (envolvido na guerra<br />

civil), não se tenha assistido a reflexo directo <strong>no</strong> fluxo emigratório65 . A "ci<strong>da</strong>de fabril"<br />

dos defensores do proteccionismo, <strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente Oliveira Martins e o combativo<br />

Pereira de Magalhães, estava ain<strong>da</strong>, <strong>no</strong> terceiro quartel do século, domina<strong>da</strong> pelo<br />

"domestic system". É o primeiro quem o confirma, <strong>no</strong> Inquérito Industrial de 1881, de<br />

que foi re<strong>da</strong>ctor: " Dos grandes fabricantes do Porto alguns não têem fabrica, isto é,<br />

teares em estabelecimento seu [...]; outros têem pequenas officinas de tecelagem cujo<br />

produto é incomparavelmente me<strong>no</strong>r do que o dos teares que trazem por sua conta<br />

directa ou indirectamente; outros possuem tinturarias anexas: são 3; outros finalmente<br />

[...] têem pequenas fábricas, estabelecimentos dependentes <strong>da</strong>s casas de habitação,<br />

collocados ao fundo dos quintaes, aggregando-se e desenvolvendo-se em construcções<br />

sobrepostas” 66 . Por exemplo, a fábrica de Asneiros, sita na rua <strong>da</strong> Torrinha, proprie<strong>da</strong>de<br />

de Pereira de Magalhães e que lhe servia de argumento na sua luta pelo<br />

proteccionismo67 , tinha apenas 41 teares de madeira, mas teciam para ela 229 teares em<br />

casa (126 na ci<strong>da</strong>de e 103 <strong>no</strong>s concelhos limítrofes), em que dois terços dos tecelões<br />

eram do sexo femini<strong>no</strong>, além dos que compravam o fio e vinham vender-lhe depois o<br />

tecido (avaliados em 600 a 800) 68 . No que se refere à época em estudo, podemos dizer<br />

65 Cf. SÁ, Sebastião Jose Ribeiro de, "Inquérito sobre a influência <strong>da</strong> guerra <strong>da</strong> América na industria<br />

portugueza do algodão", Diário de Lisboa, de 10 de Outubro de 1862. Um dos aspectos mais evidentes do<br />

arcaísmo industrial portuense <strong>da</strong> época é a ven<strong>da</strong> de "stocks" de algodão, a preço subido, <strong>da</strong><strong>da</strong> a procura<br />

existente, por armazenistas e industriais para Espanha e Inglaterra, em plena crise, com os teares parados.<br />

66 Comissão Central Directora do Inquérito Industrial, Inquerito Industrial de 1881 - Inquerito Directo -<br />

segun<strong>da</strong> parte - Visita ás Fábricas, Livro segundo, Lisboa, Imprensa Nacional, 1881, p. 194. Cf. também<br />

o Inquérito sobre o Estado <strong>da</strong> Industria <strong>da</strong> Tecelagem na Ci<strong>da</strong>de do Porto e Situação dos Respectivos<br />

Operários, ordenado por decreto de 13 de Dezembro de 1888, Lisboa, Imprensa Nacional, 1889. E ain<strong>da</strong>,<br />

OLIVEIRA, Luiz Firmi<strong>no</strong> d', Industria Algodoeira, 1887-1903, Porto, Typ. Empresa Guedes, 1904.<br />

67 António Pereira de Magalhães foi o mais ardente defensor do proteccionismo <strong>no</strong> Porto e um dos<br />

dirigentes <strong>da</strong> Associação Industrial do Porto (não confundir com a A.I. Portuense) Para uma análise de<br />

porme<strong>no</strong>r, cf. <strong>da</strong> sua autoria, O Proteccionista e os Livre-cambistas - compilação de vários opúsculos,<br />

Porto Typographia Industrial, 1871.<br />

68 Cf. Inquerito Industrial de 1881, ob.cit., pp. 117-138. Cria<strong>da</strong> em 1850, recontrui<strong>da</strong> depois de um

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