15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 349<br />

burocrática, tentando ain<strong>da</strong> antes uma eleição falha<strong>da</strong> a deputado, mas conseguindo ser<br />

durante algum tempo administrador <strong>da</strong> Maia e assumindo depois o cargo de tabelião em<br />

Matosinhos. É nesta circunstância que a quinta vai ser compra<strong>da</strong> do Brasil (1870) por<br />

Manuel Francisco de Oliveira, natural de Perafita, por informação de seu irmão e<br />

cunhados, por 24 contos de réis, o qual pouco antes tinha comprado outra do mesmo<br />

modo, em Vilar do Senhor, por 4200$000. Do Brasil, logo o Manuel mandou fazer<br />

obras, reformando as minas de água <strong>da</strong> casa, empedrando agora as que tinham caído,<br />

construindo eidos de gado cobertos, <strong>no</strong>vos palheiros, a casa <strong>da</strong> eira e uma eira de pedra<br />

em substituição <strong>da</strong>s três de barro que existiam. Nas portas <strong>da</strong>s casas e nas rama<strong>da</strong>s<br />

mandou aplicar madeira do Brasil por ele envia<strong>da</strong>. Acabou por morrer <strong>no</strong> Brasil, sem<br />

filhos, deixando à família estas quintas e mais fortuna, pelo que o irmão e cunhados<br />

acabaram as obras (o muro, portão de ferro e <strong>no</strong>vas rama<strong>da</strong>s) 95 .<br />

Mas o caso do "brasileiro Mathildes", do<strong>no</strong> <strong>da</strong> "casa <strong>da</strong> Ponte", <strong>no</strong> lugar <strong>da</strong><br />

Travessa, em Vilar do Pinheiro, é ain<strong>da</strong> mais explícito sobre os comportamentos algo<br />

excêntricos destas personagens. José Francisco Pires era filho de pai incógnito e de<br />

Matilde, solteira (<strong>da</strong>í a alcunha). Emigrou para o Brasil, donde trouxe uma fortuna<br />

avalia<strong>da</strong> em dezoito contos de réis, o que lhe permitiu casar com Maria Dias Senra, duma<br />

importante casa de lavoura. Transformou a sua pequena casa que comprara <strong>no</strong> lugar do<br />

Teso numa grande casa de lavoura que de<strong>no</strong>mi<strong>no</strong>u "Bem-fica". Começou por murar a<br />

habitação e seu domínio, o que teve de fazer por três vezes, <strong>da</strong><strong>da</strong> a fragili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> terra e<br />

pelo facto de passar por baixo uma mina de água. Comprou depois a casa que lhe ficava<br />

em frente do caminho, trocando-a por outra, ligando as duas casas por uma ponte, por<br />

cima do caminho público, man<strong>da</strong>ndo fazer para ca<strong>da</strong> casa portões de ferro iguais e com<br />

pirâmides de pedra a enquadrá-los (em 1839). Tratou de se fornecer em água, man<strong>da</strong>ndo<br />

abrir a mina respectiva. Fazia obras contínuas, acompanhando de perto os operários.<br />

Plantava muitas flores e teria sido dos primeiros na região a ter japoneiras <strong>no</strong> jardim.<br />

Tinha uma ver<strong>da</strong>deira colecção de aves exóticas - papagaios, araras, galinhas do mato,<br />

pavões. To<strong>da</strong>s as terças e sábados se deslocava ao Porto, montado na sua mula, tornadose<br />

num dos influentes <strong>da</strong> terra. À mulher, que o acompanhava sempre às romarias,<br />

ofereceu-lhe muitos ador<strong>no</strong>s em ouro, um faqueiro de prata, uma caixa de música, um<br />

santuário muito rico representando a desci<strong>da</strong> <strong>da</strong> Cruz. Não tendo filhos, tudo legou à<br />

mulher e esta, por sua morte, a uma sobrinha, tendo a casa estado longo tempo<br />

abandona<strong>da</strong> após a sua morte96 .<br />

95 Idem, 3º cader<strong>no</strong> , pp. 115-127.<br />

96 Idem, 2º cader<strong>no</strong>, pp. 69-70 e 96vº-98.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!