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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 263<br />

áreas ocupacionais. Mas, a partir de 1851, a <strong>emigração</strong> do Porto dispara, em consonância<br />

com o fim declarado do tráfico esclavagista: o número de emigrantes para o Brasil nesse<br />

a<strong>no</strong> (3669) é praticamente o dobro do a<strong>no</strong> anterior (1838), iniciando uma fase de<br />

incremento que atinge o pico máximo em 1855, com 7256. Terá sido aqui o grande salto<br />

<strong>no</strong>s processos "selvagens" de engajamento, cuja <strong>no</strong>vi<strong>da</strong>de terá estado na massificação e<br />

consequente deterioração de condições, pois a prática <strong>da</strong>s viagens a crédito, a pagar <strong>no</strong><br />

desti<strong>no</strong>, era antiga, havendo mesmo transportadores que se queixavam de bom número de<br />

dívi<strong>da</strong>s, por falta de tais pagamentos. Porém, agora, a massificação, o desti<strong>no</strong> incerto e<br />

desconhecido dos "engajados" que iriam para as fazen<strong>da</strong>s do interior, com difícil acesso<br />

ao litoral, obriga os transportadores a não deixarem pôr pé em terra aos emigrantes antes<br />

do pagamento <strong>da</strong> viagem e <strong>da</strong>í os célebres contratos a bordo por ordem dos fazendeiros.<br />

É por isso que qualquer tentativa de quantificação resultará sempre imprecisa: se alguns<br />

partem já com contrato, outros são contratados a bordo, clandestinamente, após a saí<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

legislação de 1855 que obrigava a que tal fosse feito perante a autori<strong>da</strong>de portuguesa;<br />

outros ain<strong>da</strong> serão engajados, após o desembarque, <strong>no</strong> consulado português, enquanto<br />

alguns o farão depois de não terem conseguido logo o emprego que sonhavam ou lhes ter<br />

faltado a "recomen<strong>da</strong>ção" em que confiavam. Naturalmente que estes contratos<br />

ofereciam condições diferencia<strong>da</strong>s, <strong>da</strong><strong>da</strong> a diferente situação de maior ou me<strong>no</strong>r<br />

debili<strong>da</strong>de e conhecimento de causa em que se encontrava o locador, bem como <strong>da</strong>s<br />

condições em que o locatário controlava presencialmente ou não a "quali<strong>da</strong>de" <strong>da</strong> mãode-obra101<br />

. Mas agora, as obras públicas passam para segundo lugar, emergindo as<br />

plantações como os grandes sorvedouros <strong>da</strong> força braçal. Daí que a preferência <strong>no</strong><br />

recrutamento vá para os trabalhadores do campo. António Clemente Pereira, o célebre<br />

barão de Nova Friburgo, com fazen<strong>da</strong>s em Cantagalo, S. Fidelis e Nova Friburgo, <strong>da</strong>va<br />

aos seus agentes de recrutamento instruções para contratarem os "filhos de lavradores do<br />

campo e que nunca tiveram outra occupação, fortes, sadios, de 14 até 18 an<strong>no</strong>s pouco<br />

mais ou me<strong>no</strong>s (não se admite sob pretexto algum gente <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des ou villas)" 102 . Este<br />

facto explica a extensão rural <strong>da</strong>s redes de engajadores, os seus "ataques" nas feiras ou<br />

nas missas de domingo, procurando os ajuntamentos, bem como a afixação de cartazes às<br />

101 Uma comparação entre contratos realizados <strong>no</strong> Porto e <strong>no</strong> Rio de Janeiro, por exemplo, dá a entender<br />

que estes últimos poderiam ser ligeiramente mais favoráveis, em virtude <strong>da</strong> maior procura de colo<strong>no</strong>s,<br />

enquanto em Portugal o contrato seria realizado fora do "mercado", aonde se não fazia sentir o diferencial<br />

em relação aos salários dos que íam trabalhar sem contrato. Por isso, era fácil aos empregadores urba<strong>no</strong>s do<br />

Rio arranjarem empregados, já que as suas ofertas cobriam facilmente as dos fazendeiros. Para a<br />

comparação, cf. "Documentos relativos às accusações feitas ao Cônsul Geral de Portugal <strong>no</strong> Rio de Janeiro,<br />

o Barão de Moreira", O Commercio do Porto , de 2 de Novembro de 1861.<br />

102 "Instrucções para engajamento de colo<strong>no</strong>s em Portugal", o Commercio do Porto, nº 243, de 23 de<br />

Outubro de 1861 ( as instrucções estão <strong>da</strong>ta<strong>da</strong>s de 1858 e a sua publicação insere-se <strong>no</strong> processo público<br />

relativo à questão do Barão de Moreira).

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