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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

subrepticiamente à assinatura <strong>da</strong>quele respeitado Parocho", conseguindo assim que o dito<br />

embarcasse sem prestar a fiança exigi<strong>da</strong> em virtude do recrutamento militar 127<br />

Apesar <strong>da</strong> política de dissuasão e do tom geral de dramatici<strong>da</strong>de prevalecente, que a<br />

eclosão cíclica <strong>da</strong> febre amarela <strong>no</strong> Brasil justificava, o tecido social persiste, em<br />

crescendo, na solução emigratória. E quando as medi<strong>da</strong>s burocráticas sufocavam as<br />

expectativas individuais e familiares, <strong>da</strong>va-se o salto, contornava-se a lei. Entrava-se na<br />

clandestini<strong>da</strong>de. Atravessado o "charco" imenso que o Atlântico representava, mas a que a<br />

designação popular conferia dimensões acessíveis, não havia mais problemas com a<br />

autori<strong>da</strong>de. Do lado de lá ninguém era penalizado por falta de documentação, pois a<br />

representação consular portuguesa, de reduzi<strong>da</strong> dimensão e evidenciando, com frequência,<br />

atitudes ambíguas, só muito raramente agia segundo o espírito <strong>da</strong> lei portuguesa128 . Do lado<br />

brasileiro, a recepção ao estrangeiro decorria sem problemas: o decreto imperial nº 1531 de<br />

10 de Janeiro de 1855, anulava os títulos de residência e passaporte antes necessários, pelo<br />

que "o estrangeiro chegado ao império, apenas obtenha o visto <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de brazileira <strong>no</strong><br />

seu passaporte, acha-se habilitado para ir livremente a qualquer ponto do interior, ou<br />

mesmo para mu<strong>da</strong>r de provincia, sem dependência de outra alguma condição", como<br />

forma de facilitar a colonização129 . Não esqueçamos, contudo, o doloroso enquadramento<br />

legal para o que entrasse contratado com locação de serviços, enquanto não estivesse<br />

desonerado <strong>da</strong>s dívi<strong>da</strong>s contraí<strong>da</strong>s à parti<strong>da</strong>.<br />

Mas <strong>no</strong>s meados do século XIX, o fenóme<strong>no</strong> <strong>da</strong> clandestini<strong>da</strong>de ganha foros de<br />

problema nacional, o debate que precede e acompanha a produção legislativa apresenta-a<br />

como um escân<strong>da</strong>lo a que urge pôr cobro, e os exemplos encontrados são publicitados até à<br />

exaustão num quadro em que a generalização se processa rapi<strong>da</strong>mente.<br />

Como se <strong>no</strong>s apresenta, então, este fenóme<strong>no</strong> <strong>da</strong> clandestini<strong>da</strong>de, o que significa em<br />

termos quantitativos e qualitativos, como se articula face aos procedimentos <strong>no</strong>rmativos ?<br />

Sob o ponto de vista quantitativo, a avaliação <strong>da</strong> clandestini<strong>da</strong>de é de grande<br />

importância na medi<strong>da</strong> em que, se assumir grandes proporções, diminui a<br />

127 AGCP, Livro de correspondência expedi<strong>da</strong> a várias enti<strong>da</strong>des, nº 1038, 1866-1870, ofícios nºs 116 e 117<br />

de 13.02.1867.<br />

128 Embora haja um caso ou outro de reenvio a Portugal de indocumentados, os representantes do consulado<br />

limitavam-se a registar as situações de clandestini<strong>da</strong>de e a <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong> ocorrência e do respectivo capitão ao<br />

Ministério dos Estrangeiros português, contribuindo para a contratação dos emigrantes. Este facto,<br />

personalizado <strong>no</strong> Barão de Moreira, conjugado com outras pretensas a<strong>no</strong>malias, fez com que se<br />

desenvolvesse uma e<strong>no</strong>rme campanha <strong>da</strong> colónia portuguesa contra o cônsul-geral, acusado de conluio com<br />

os interesses brasileiros, que levou à sua destituição. Nessa campanha colaborou longamente "O Comércio do<br />

Porto", publicando grande número de documentos que pretendiam incriminá-lo, em virtude do que o Barão<br />

acabou por ter de deixar aquele lugar. Cf. aquele jornal para os a<strong>no</strong>s de 1861-1862.<br />

129 "Nota do Ministro dos Estrangeiros do Brasil ao Encarregado de Negócios de Portugal", in Documentos<br />

Apresentados ás Cortes... , p.9.<br />

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