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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 401<br />

Por aqui se pode ver que o "tio brasileiro" era uma pessoa com alguma<br />

frugali<strong>da</strong>de, pois <strong>no</strong>s meses <strong>no</strong>rmais quase não ultrapassava a despesa de 60$000<br />

mensais, ou seja, 2$000 por dia. Pouco? Muito? Como termo de comparação, recordemos<br />

que os ordenados dos "artistas oficiais" <strong>no</strong> final do século, em Vila do Conde, ron<strong>da</strong>vam<br />

os 500 réis diários, pelo que o ex-emigrante, filho de um carpinteiro e alquilador, tinha<br />

agora à sua disposição, numa situação de retira<strong>da</strong> do activo, a possibili<strong>da</strong>de de consumir<br />

o quádruplo do que teria na hipótese de seguir a profissão do pai, sem direito a retira<strong>da</strong>,<br />

pois em Portugal a sua capaci<strong>da</strong>de de poupança seria quase nula. Além disso, podia <strong>da</strong>rse<br />

ao luxo de gastar mais do que isso, quando entendesse, e tal aconteceu com frequência.<br />

Vejamos alguns dos motivos que estão por detrás destes picos consumistas, e que<br />

justificavam uma parcela própria nas contas, pois a maioria estão <strong>no</strong>rmalmente sob a<br />

referência geral de "despesas miú<strong>da</strong>s". Motivos que <strong>no</strong>s permitem entrever alguns<br />

aspectos mais precisos do quotidia<strong>no</strong>.<br />

Assim, em Março, há um salto nas verbas derivado <strong>da</strong> retira<strong>da</strong> de 45$000 para<br />

"despesas que for fazendo a estu<strong>da</strong>r o meu sobrinho Manuel, filho de meu irmão Manuel<br />

Fernandes Pereira e que entreguei a meu irmão António Maria Pereira para ir <strong>da</strong>ndo<br />

como for sendo preciso". Em Abril faz obras na "casa grande" e passa duas semanas num<br />

hotel do Porto. Em Junho a e<strong>no</strong>rme despesa de quase 375 mil réis deve-se a reparações na<br />

<strong>no</strong>va casa <strong>da</strong> Calça<strong>da</strong>, recém adquiri<strong>da</strong>, e à sua estadia de um quinzena nas Pedras<br />

Salga<strong>da</strong>s, gastando nesta a verba de 55$390. Em Setembro tem a primeira entrega de<br />

dinheiro para a capela funerária que mandou construir <strong>no</strong> cemitério de S. Francisco,<br />

orçamenta<strong>da</strong> em 375$000, e, <strong>no</strong>s finais do mês (a 17), o <strong>no</strong>sso já íntimo "brasileiro"<br />

realiza o seu percurso turístico: compra os inevitáveis charutos, parte para o Porto, dá<br />

ain<strong>da</strong> um salto de carro a Vairão, e depois segue para o Luso, Figueira, Cal<strong>da</strong>s <strong>da</strong> Rainha,<br />

Alcobaça e de <strong>no</strong>vo o Porto e Vila do Conde, aonde chega a 2 de Outubro. Mas a 27 tinha<br />

falecido a sua irmã Joana. As despesas de Outubro, muito eleva<strong>da</strong>s, devem-se, sobretudo,<br />

a ter ficado com o espólio <strong>da</strong> irmã (algum dinheiro, jóias e roupas), assumindo as<br />

despesas do funeral e médico e distribuindo o remanescente, avaliado em dinheiro, pelos<br />

irmãos. Além disso vai a Braga <strong>no</strong> dia 4 com o seu irmão Manuel, levar o sobrinho do<br />

mesmo <strong>no</strong>me, ao seminário, <strong>da</strong>ndo-lhe pessoalmente 12$120 e pagando em livros e<br />

outras despesas 23$640. Voltará lá <strong>no</strong> dia 8, agora na companhia do irmão António, por<br />

causa do mesmo sobrinho "que quiz sahir do Seminário como sahiu ". Roupa de inver<strong>no</strong><br />

(ter<strong>no</strong>, colete, sobretudo) e <strong>no</strong>va estadia num hotel do Porto estão por detrás dos gastos<br />

de Novembro. E a verba mais eleva<strong>da</strong>, a de Dezembro, não poderia deixar de estar<br />

Correctamente, pois trata-se de um investimento, e nesta conta surgem apenas as despesas de consumo.

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