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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

ca<strong>da</strong> vez maior às estratégias de sobrevivência, até pelas mutações estruturais que se<br />

verificam do lado português, <strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente <strong>no</strong> mercado <strong>da</strong> terra, que proletarizam e<br />

fragilizam vastas cama<strong>da</strong>s do campesinato, o qual vai recorrer às <strong>no</strong>vas "facili<strong>da</strong>des" para<br />

emigrar, acontecendo o mesmo em relação a outros sectores profissionais, por via <strong>da</strong><br />

i<strong>no</strong>vação técnica, como por exemplo, com os pescadores e certos domínios do<br />

artesanato. A facilitação deste êxodo crescente é, então, marcado pelas já referi<strong>da</strong>s<br />

políticas de atracção do Brasil, que deseja a "massa trabalhadora" para as plantações e<br />

obras públicas, as quais se vão reflectir na baixa sensível dos custos de deslocação e<br />

instalação, baixa às vezes aparente, pelo pagamento em diferido, como aconteceu <strong>no</strong>s<br />

contratos de locação.<br />

A <strong>emigração</strong>, como vemos, não decorre exclusivamente <strong>no</strong> interior de um jogo<br />

familiar. Vira<strong>da</strong>, por definição, para o exterior, a <strong>emigração</strong> defronta-se, <strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente,<br />

com essa enti<strong>da</strong>de <strong>no</strong>va e ain<strong>da</strong> pouco interioriza<strong>da</strong> <strong>no</strong> século passado que se de<strong>no</strong>mina a<br />

Nação, para além <strong>da</strong> ligação com a comuni<strong>da</strong>de internacional. Mas ao nível <strong>da</strong> Nação,<br />

os candi<strong>da</strong>tos à <strong>emigração</strong> viram substituir-se à proibição pura e simples de parti<strong>da</strong>, típica<br />

do Antigo Regime, um emaranhado de leis aonde se consagrava o direito aos ci<strong>da</strong>dãos de<br />

livremente escolherem o seu domicílio, mas que emperrava logo nas saí<strong>da</strong>s para o<br />

estrangeiro. As limitações, que os direitos <strong>da</strong> Nação justificavam, tinham um leque tão<br />

amplo, dirigiam-se tão directamente aos padrões mais típicos (os jovens em i<strong>da</strong>de militar)<br />

que não restavam dúvi<strong>da</strong>s sobre os objectivos restritivos que pretendia alcançar.<br />

Prevaleceu frequentemente a ineficácia legislativa, através do esquecimento ou contor<strong>no</strong><br />

<strong>da</strong>s <strong>no</strong>rmas, embora com custos huma<strong>no</strong>s agravados, já que a produção de clandesti<strong>no</strong>s<br />

(sejam os indocumentados ou os "colo<strong>no</strong>s" dissimulados) só favorece os empregadores,<br />

neste casos estrangeiros e com o respectivo sistema judicial a seu favor. Mas o labirinto<br />

burocrático vai redimensionar de algum modo a natureza do fluxo migratório.<br />

Contratação de locação de serviços, alega<strong>da</strong> exigência <strong>no</strong> cumprimento do serviço militar<br />

e combate à clandestini<strong>da</strong>de foram os três focos de atenção sobre os quais se estruturou<br />

to<strong>da</strong> a legislação repressiva <strong>da</strong> <strong>emigração</strong>, <strong>da</strong>ndo corpo a uma mentali<strong>da</strong>de de tipo<br />

populacionista, com claros objectivos de deter o cau<strong>da</strong>l (às vezes tentando desviá-lo para<br />

as colónias de África), e que se confronta com uma consciência difusa de tipo<br />

malthusia<strong>no</strong> na população em geral.<br />

Apesar <strong>da</strong>s suas limitações, <strong>no</strong>mea<strong>da</strong>mente pela existência <strong>da</strong> clandestini<strong>da</strong>de, os<br />

registos de passaporte permitiram avaliar as configurações de conjunto desta corrente<br />

emigratória na sua componente legal e, sobretudo, quantificar uma série de indicadores<br />

(volume, sexo, i<strong>da</strong>de, analfabetismo, ocupação, naturali<strong>da</strong>de, desti<strong>no</strong>) para períodos<br />

muito mais recuados cro<strong>no</strong>logicamente do que a estatística oficial permite, fornecendo<br />

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