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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

migratória a apresentarem os indicadores mais elevados (Vila do Conde, Póvoa de Varzim),<br />

revelando que também neste campo as redes migratórias estão activas, embora tal facto<br />

possa ser interpretado como a sobreposição de práticas tradicionais ao fenóme<strong>no</strong> <strong>da</strong> fuga ao<br />

recrutamento, surgindo este não como uma causa <strong>da</strong> <strong>emigração</strong>, mas como consequência de<br />

a parti<strong>da</strong> de jovens ser já um comportamento enraizado. Neste caso, o recrutamento surgia<br />

tanto como catalizador, incentivando a precoci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s parti<strong>da</strong>s para obviar às suas<br />

exigências, como obstáculo, impedindo que alguns jovens partissem <strong>da</strong>do o filtro <strong>da</strong>s<br />

medi<strong>da</strong>s repressivas que a legislação impunha. Explicações estas compatíveis com os casos<br />

extremos de Lousa<strong>da</strong> e Marco de Canavezes, que, apresentando indicações elevadíssimas<br />

de ausência dos recenseados, não indicam que ela se tenha efectuado para o Brasil em<br />

grande número, tudo apontando para que a tendência para a <strong>emigração</strong> esteja ain<strong>da</strong> abaixo<br />

dos níveis de migração interna nestes concelhos relativamente afastados do litoral.<br />

Dos que íam para o Brasil, casos havia em que o <strong>retor<strong>no</strong></strong> era relativamente rápido e<br />

o agora "brasileiro" apresentava documentação de nacionalizado, aproveitando as<br />

facili<strong>da</strong>des que a este respeito eram concedi<strong>da</strong>s naquele país e jogando com esse factor para<br />

se subtrair ao recrutamento. Um caso ao acaso: em 1861, Mateus Barros, de 22 a<strong>no</strong>s,<br />

marceneiro, de Rebordosa (Paredes) é preso pelo administrador do concelho e enviado sob<br />

custódia ao Gover<strong>no</strong> Civil como refractário. Protesta por ser brasileiro, mas o passaporte<br />

que apresenta a confirmar esta asserção é considerado falso. O consulado brasileiro vai em<br />

seu apoio, pede explicações à autori<strong>da</strong>de, transcreve o extracto de passaporte pelo qual se<br />

reconhece a sua <strong>no</strong>va nacionali<strong>da</strong>de (devi<strong>da</strong>mente visado pelas autori<strong>da</strong>des portuguesas e<br />

brasileiras) e solicita a sua reposição em liber<strong>da</strong>de. Ouvido em interrogatório, Mateus<br />

explica ter embarcado para o Brasil em Outubro de 1859, sem passaporte, na galera<br />

Amizade, por intermédio de um tal Padre António, <strong>da</strong> Terra <strong>da</strong> Feira, chegando ao Rio a<br />

15 de Dezembro. Fora introduzido <strong>no</strong> navio com a aju<strong>da</strong> do capitão, tendo-se escondido <strong>da</strong><br />

visita <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des à embarcação. Em Janeiro de 1861, regressara por Lisboa, <strong>no</strong> navio<br />

"Monteiro 2º", de Lisboa para o Porto tomou o vapor Lusitânia, voltando a Rebordosa,<br />

onde foi detido a 19 de Fevereiro117 . Um pouco mais de um a<strong>no</strong> para se fazer um<br />

"brasileiro" e escapar ao serviço militar! Mais fácil e mais barato do que encontrar um<br />

substituto ou pagar a remissão !?<br />

Muitos recrutas, porém, limitavam-se a não comparecer à chama<strong>da</strong>, contando com a<br />

conivência <strong>da</strong>s populações e autori<strong>da</strong>des locais, tudo contribuindo para que o distrito do<br />

Porto, tal como Braga e Viana, fosse um dos que maiores "dívi<strong>da</strong>s" de imposto de sangue<br />

apresentava (Quadro 4.5).<br />

117 A.G.C.P, Maço contendo correspondência recebi<strong>da</strong>, 1861, M632.<br />

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