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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

uma fonte fiável, aspecto que continuará a ser ver<strong>da</strong>de para os tempos posteriores, ao<br />

contrário <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> <strong>da</strong>s Ilhas, em relação às quais existem as grandes denúncias de<br />

clandestini<strong>da</strong>de. É, de resto, em relação à <strong>emigração</strong> proveniente <strong>da</strong>s Ilhas que, em 1852, o<br />

efémero ministro dos Estrangeiros <strong>da</strong> Regeneração, Visconde de Almei<strong>da</strong> Garrett, man<strong>da</strong><br />

organizar uma comissão <strong>no</strong> Rio de Janeiro, presidi<strong>da</strong> pelo cônsul e composta por<br />

negociantes portugueses <strong>da</strong>quela praça, com o objectivo de "evitar os abusos escan<strong>da</strong>losos<br />

que se comettem na conducção dos chamados Colo<strong>no</strong>s que <strong>da</strong>s ilhas adjacentes a este<br />

Rei<strong>no</strong> emigram para aquelle Imperio, com contratos de locação de serviços, <strong>no</strong>s quaes, e<br />

na maneira como são executados, é <strong>no</strong>tório praticarem-se muitas fraudes". 31<br />

No entanto, será apenas em 1855 que se publica <strong>no</strong>va legislação <strong>no</strong> sentido de<br />

prevenir os abusos cometidos pelos capitães dos navios e a evasão clandestina dos<br />

emigrantes, aspectos consagrados na Lei de 20 de Julho, <strong>no</strong>rmalmente designa<strong>da</strong> como "lei<br />

repressiva <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> clandestina". Muito discuti<strong>da</strong> nas Câmaras Legislativas, pois a sua<br />

aprovação decorreu num contexto de indignação pública pelos escân<strong>da</strong>los <strong>da</strong>s embarcações<br />

Incógnito32 e Defensor 33 a Lei acaba por ser muito débil34 . Quase se limita a coligir<br />

medi<strong>da</strong>s anteriores, já expressas <strong>no</strong> Regulamento de 30 de Maio de 1825 e na Portaria de<br />

19 de Agosto de 1842 acima analisados, embora muitas não funcionassem na prática. Na<br />

ver<strong>da</strong>de, a lei agora publica<strong>da</strong> re<strong>no</strong>va a proibição de saí<strong>da</strong> sem passaporte (com pena de<br />

400$ ao capitão se a infringir), embora imponha a pena de 2000$ e prisão de 6 a 12 meses<br />

para os casos de o navio receber mais passageiros do que permite a sua tonelagem, para<br />

situações de falta de higiene conforme os Regulamentos, ou mau tratamento dos<br />

passageiros; impõe de <strong>no</strong>vo a fiança de 4000$ aos navios que transportem colo<strong>no</strong>s, como<br />

31 Portaria de 12 de Maio de 1852 (D.G., nº 113, de 14 de Maio).<br />

32 O palhabote "Incógnito" saíra de Caminha com desti<strong>no</strong> ao Rio de Janeiro, mas, fora obrigado pelo mau<br />

tempo a arribar a Vigo. Fiscalizado pelas autori<strong>da</strong>des portuárias, verificou-se um excessivo número de<br />

passageiros contratados, todos se queixando dos maus tratos: "a bordo se lhes não <strong>da</strong>va senão diariamente<br />

um par de sardinhas com ração de bolacha negra", sob um tratamento desuma<strong>no</strong> <strong>da</strong> tripulação que reagia<br />

com ameaças a qualquer queixa. "O capitão é dos conhecidos na carreira de África e o navio havia-se<br />

construido para vender-se <strong>no</strong> Brasil ao serviço do trafico <strong>da</strong> escravatura" . Em face <strong>da</strong> detenção, com 79<br />

passageiros internados pelas autori<strong>da</strong>des, o navio zarpou de Vigo sem esperar pelos documentos,<br />

suspeitando-se de subor<strong>no</strong> pelos armadores em relação às autori<strong>da</strong>des portuárias de Vigo. (Cf. O Commercio,<br />

nº 77 de 3 de Abril e nº 79 de 7 de Abril de 1855).<br />

33 Saí<strong>da</strong> do Porto para o Pará, com 289 colo<strong>no</strong>s, a galera "Defensor", chegou ao seu desti<strong>no</strong> com me<strong>no</strong>s 47,<br />

mortos na viagem, o que as autori<strong>da</strong>des brasileiras atribuiram "á fome, á sede, e espancados pelo capitão, que<br />

alem de <strong>da</strong>r-lhes pessimo alimento, ain<strong>da</strong> chegou a tanto a malvadez deste capitão que esse mesmo pouco e<br />

pessimo era cozinhado com agua salga<strong>da</strong>". Cf. O Commercio, nºs 153 de 6 de Julho, 154 de 7 de Julho, 156<br />

de 10 de Julho, 171 de 21 de Julho de 1855.<br />

34 Sobre o contexto <strong>da</strong> sua aprovação, as consequências para a navegação portuguesa e seus possíveis efeitos,<br />

bem como aos pontos de vista dos armadores, cf., além dos citados, diversos nºs do jornal O Commercio (nºs<br />

45 de 24 de Fevereiro, 50 de 2 de Março, 57 de 2 de Março, 89 de 19 de Abril,160 de 14 de Julho, 161 de 16<br />

de Julho, 162 de 17 de Julho, 177 de 3 de Agosto, 179 de 6 de Agosto, 183 de 10 de Agosto de 1855)<br />

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