15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

Embora a <strong>emigração</strong> viesse ca<strong>da</strong> vez mais para a discussão pública e política (<br />

recordemos os inquéritos parlamentares de 1873 e de 1885), a legislação parecia ter<br />

esgotado as suas soluções. Se a analisarmos com atenção, as sucessivas alterações ou são<br />

emen<strong>da</strong>s avulsas de peque<strong>no</strong> impacto ou codificações <strong>da</strong>s leis dispersas: os grandes<br />

princípios orientadores, <strong>no</strong> que respeita à saí<strong>da</strong> para o estrangeiro, são ain<strong>da</strong> os de 1842,<br />

retocados em 1855, com a<strong>da</strong>ptações aos <strong>no</strong>vos tempos. Revela-se, <strong>no</strong> entanto, a dificul<strong>da</strong>de<br />

de legislar sobre os vapores, quase todos de origem estrangeira, inseridos em carreiras<br />

internacionais, aos quais seria difícil impor condições de navegação diferentes <strong>da</strong>s<br />

verifica<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s outros <strong>porto</strong>s, pois, em último caso, evitariam os <strong>porto</strong>s nacionais, com<br />

manifesto prejuízo para a eco<strong>no</strong>mia nacional, <strong>da</strong>do o consequente isolamento. De resto<br />

estes apresentavam, <strong>no</strong>rmalmente boas condições e preços ca<strong>da</strong> vez mais concorrenciais,<br />

na<strong>da</strong> comparáveis à navegação veleira, decrépita, com barcos antiquados e em desespero,<br />

perante o seu fim anunciado.<br />

O ónus <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> ia recair agora, nas últimas déca<strong>da</strong>s do século XIX,<br />

essencialmente sobre o emigrante, único elemento <strong>da</strong> cadeia migratória susceptível de<br />

sofrer sanção, por ser o elo mais fraco. A legislação apresenta então uma preocupação<br />

crescente com a responsabilização individual. Nesta altura, a <strong>emigração</strong> de me<strong>no</strong>res está já<br />

praticamente obstruí<strong>da</strong>, a não ser na sua forma familiar, baseando-se a restrição <strong>no</strong> controlo<br />

<strong>da</strong> fuga ao recrutamento e a obrigação de fiança eleva<strong>da</strong> para todos os me<strong>no</strong>res. O<br />

emigrante perde, agora, a imagem <strong>da</strong> criança desprotegi<strong>da</strong>, à mercê dos pais, engajadores e<br />

empregadores, imagem que detinha <strong>no</strong>s meados do século.<br />

As leis que voltam a surgir na viragem do século, perante a deban<strong>da</strong><strong>da</strong> massiva que<br />

avassala o País, trazem de <strong>no</strong>vo o estigma <strong>da</strong> "repressão", vocábulo que utilizam<br />

abun<strong>da</strong>ntemente, em especial com a criação <strong>da</strong> "Polícia Especial de Repressão <strong>da</strong><br />

Emigração Clandestina", num sistema de penalizações reforça<strong>da</strong>s, a que se retira o papel<br />

dos jurados, elemento judicial polémico, pois a prática provava que o júri acabava sempre<br />

por não condenar ou atenuava consideravelmente os levados a juízo por este tipo de crimes,<br />

mostrando à evidência a comunhão <strong>da</strong> opinião pública ( ou interesses organizados?) com<br />

quem emigrava ou propiciava a <strong>emigração</strong>, contra a linha regularizadora do poder político.<br />

Numa tentativa de desvio <strong>da</strong> corrente emigratória, tor<strong>no</strong>u-se gratuita a concessão de<br />

passaporte a nacionais que partissem para o Ultramar português, ao mesmo tempo que<br />

encarece o passaporte para o estrangeiro (3$000 de emolumentos e 1$500 de selo),<br />

tendente a regularizar e a fomentar a <strong>emigração</strong> para as colónias africanas. Cf., a esse respeito, COSTA,<br />

Afonso, Estudos de Eco<strong>no</strong>mia Nacional - I- O Problema <strong>da</strong> Emigração, Lisboa, Imprensa Nacional, 1911,<br />

pp. 167-173. Numa perspectiva discor<strong>da</strong>nte de A. Costa, e também como resenha de to<strong>da</strong> a legislação neste<br />

domínio, desde o Antigo Regime, CF. SILVA, Fernando Emygdio, Emigração Portuguesa, Coimbra, França<br />

& Arménio, 1917, pp. 200-223.<br />

141

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!