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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 258<br />

A inércia do ensi<strong>no</strong> público nesta época é <strong>no</strong>tória, conforme <strong>no</strong>s eluci<strong>da</strong> um<br />

circunstanciado relatório <strong>da</strong> 2ª circunscrição escolar (distrito de Porto e Aveiro) referente<br />

ao a<strong>no</strong> de 1883. Basta talvez dizer que, face ao preconizado na lei e <strong>no</strong> distrito do Porto,<br />

careciam ain<strong>da</strong> de escola masculina 197 freguesias e de escola feminina 317, bem como<br />

40% dos alu<strong>no</strong>s aprovados em exame eram oriundos do ensi<strong>no</strong> livre, englobando este as<br />

de iniciativa individual como as manti<strong>da</strong>s por associações90 . Apesar dos apelos à<br />

socie<strong>da</strong>de civil, procurando envolver filantropos, organizações cívicas e associações<br />

mútuas com as autarquias, a resposta será insatisfatória, salvo o caso de "brasileiros" que<br />

são, como veremos, responsáveis por uma fatia significativa do parque escolar<br />

<strong>oitocentista</strong>, pelo que a responsabili<strong>da</strong>de pelo ensi<strong>no</strong> primário regressou ao poder central<br />

em 189091 .<br />

No meio <strong>da</strong>s polémicas e <strong>da</strong>s indecisões sobre a vulgarização do ensi<strong>no</strong>, o facto<br />

de os antigos emigrantes do Brazil surgirem como "os mais ardentes propugnadores <strong>da</strong><br />

instrucção popular em Portugal - prova até que ponto elles, que aprenderam <strong>no</strong> exilio,<br />

entre as multiplices necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e os motejos de estranhos, a conhecer os<br />

beneficios <strong>da</strong> instrucção, a consideram como remedio, se não unico, pelo me<strong>no</strong>s o mais<br />

seguro e efficaz, para melhorar as condições <strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa <strong>emigração</strong>" 92 .<br />

Foi essa necessi<strong>da</strong>de de instrução, profun<strong>da</strong>mente vivi<strong>da</strong>, que levou a que os<br />

emigrantes exercessem <strong>no</strong> Brasil acções de ensi<strong>no</strong>, dinamiza<strong>da</strong>s através <strong>da</strong>s organizações<br />

associativas, como, num exemplo entre tantos, a do Grémio Literário e Comercial<br />

Português, <strong>no</strong> Pará, criado em 1867 e que assegurava aulas de português, francês, inglês,<br />

aritmética e escrituração comercial. Neste contexto, o cônsul português desse distrito<br />

referia a procura de instrução por parte dos emigrantes que seguiam a carreira comercial,<br />

afirmando: "há muitissimos individuos que aqui chegaram completamente analfabetos ou<br />

com rudimentares <strong>no</strong>ções de leitura e escrita, e hoje leem e escrevem correntemente,<br />

contando-se mesmo bastantes que conseguiram adquirir uma regular cultura" 93 . No<br />

desenvolveu ao longo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> uma importante acção pelo desenvolvimento do ensi<strong>no</strong>, pelo que são<br />

numerosos os seus artigos, em diversas publicações sobre o tema.<br />

90 As escolas de ensi<strong>no</strong> livre eram, nesta circunscrição de 229, dos quais 179 de iniciativa individual,<br />

assegura<strong>da</strong>s pelos professores ou directores. Estas escolas asseguravam a frequência de 9988 alu<strong>no</strong>s<br />

(contra 21933 inscritos nas escolas públicas e 15331 presenças, para um total de 420 escolas).<br />

Naturalmente que sendo o ensi<strong>no</strong> livre pago pelos pais representava uma forma de selecção social, por isso<br />

não admira que na transição para o secundário, o ensi<strong>no</strong> público tenha aqui contribuido com 9,7% <strong>da</strong><br />

frequência e o livre com 21%. Cf. Anónimo, "Instrucção Primaria", O Commercio do Porto, nº 47 de<br />

22.02.1883.<br />

91 Para uma problematização geral, cf. RAMOS, Rui, "Culturas de alfabetização e culturas do<br />

analfabetismo em Portugal: uma introdução à História <strong>da</strong> Alfabetização <strong>no</strong> Portugal contemporâneo",<br />

Análise Social, nº 103-104, 1988, pp. 1067-1145.<br />

92 SANTOS, J. R. de Oliveira, ob. cit.<br />

93 RAMOS, José, "Do consul de Portugal <strong>no</strong> Pará á Socie<strong>da</strong>de de Geographia de Lisboa", Boletim <strong>da</strong>

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