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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 383<br />

um sinal à comuni<strong>da</strong>de do seu poder económico. Embora haja comportamentos<br />

semelhantes, já apontados para algumas vilas do distrito, o mais usual, sobretudo para os<br />

que viviam nas aldeias, era a benemerência restringir-se a um número mais elevado de<br />

missas do que o habitual, a algumas esmolas para as confrarias de que era irmão e para a<br />

misericórdia local, e a esmolas em dinheiro ou cereal para os pobres <strong>da</strong> freguesia,<br />

lembrando-se, um ou outro, <strong>da</strong> ro<strong>da</strong> dos expostos: a sua fortuna, sempre de me<strong>no</strong>r<br />

dimensão, e quase sempre aplica<strong>da</strong> em terras não se adequava muito ao dispersar<br />

filantrópico acima descrito. Sobretudo se eram casados, com descendência, ou se viviam<br />

intimamente ligados à família de origem, a pais, irmãos ou sobrinhos, distribuindo a sua<br />

fortuna entre os familiares. Só os que protagonizavam estadias mais ou me<strong>no</strong>s cíclicas na<br />

ci<strong>da</strong>de, onde tinham às vezes diversas casas de habitação e aí tinham conhecimentos<br />

diversificados, se <strong>da</strong>vam ao luxo de se lembrar <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia do Porto<br />

ou de estabelecimentos de beneficência do Brasil, dos Lázaros ou outros asilos175 . De<br />

assinalar é o facto de muitos se lembrarem dos amigos e colegas que tinham <strong>no</strong> Brasil:<br />

"deixo ao meu amigo e benfeitor o Senhor Joaquim <strong>da</strong> Silva Castro, de Pernambuco,<br />

pelos muitos serviços que me tem feito e interesses que me tem <strong>da</strong>do a quantia de cinco<br />

contos de réis em moe<strong>da</strong> brazileira" 176 . Outros lembram-se do primeiro caixeiro ou do<br />

guar<strong>da</strong>-livros e fazem-lhe a surpresa de uma pequena herança. Interessante é o caso do<br />

Visconde de Santa Marinha, em Ferreiró (Vila do Conde), que, além <strong>da</strong> escola, adquiriu<br />

terre<strong>no</strong> para um largo que ofereceu à Junta de Paróquia, comprou o terre<strong>no</strong> para o<br />

cemitério e construiu 7 eiras que ofereceu a agricultores177 .<br />

A importância dos actos filantrópicos à hora <strong>da</strong> morte não pode desvalorizar a<br />

prática <strong>da</strong> beneficência em vi<strong>da</strong>. Esta predisposição para a filantropia dos retornados, não<br />

pode ser dissocia<strong>da</strong> <strong>da</strong> prática associativa dos emigrantes portugueses <strong>no</strong> Brasil, onde<br />

desenvolveram uma obra assistencial <strong>no</strong>tável, criando inúmeras instituições de socorros<br />

mútuos, sobretudo as designa<strong>da</strong>s "socie<strong>da</strong>des de beneficência" e as "caixas de socorros",<br />

nas diversas ci<strong>da</strong>des em que a sua presença atingia volumes significativos. Mas o<br />

princípio <strong>da</strong> ligação à terra natal funcionava, sobretudo, através de subscrições<br />

organiza<strong>da</strong>s por comissões espontâneas, a propósito de cataclismos, necessi<strong>da</strong>des<br />

prementes, ou custos de peque<strong>no</strong>s melhoramentos ligados à Igreja e ao seu culto,<br />

175 Veja-se o caso de João Baptista Lopes Gonçalves, de Vila do Conde, um dos mais exuberantes aqui<br />

encontrado, cujas ofertas se limitam às centenas de mil réis a um grande número de instituições do Porto,<br />

de Lisboa e do Brasil.<br />

176 A.V.C., Livro de Registo de Testamentos, nº 3189, pp. 121-123.<br />

177 De seu <strong>no</strong>me José <strong>da</strong> Fonseca Cruz, partiu aos 14 para o Brasil (1866), na companhia de um tio de<br />

Lisboa. Mais tarde passou a Angola, onde foi chefe do Posto de Administração de Moçamedes,<br />

regressando com 35 a<strong>no</strong>s.

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