emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...
emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...
emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 282<br />
com um certo alívio que, já <strong>no</strong> alto mar, sentiam os saltos ágeis dos barqueiros <strong>da</strong>s<br />
"catraias" para desamarrar as cor<strong>da</strong>s que tinham permitido guiar o navio e evitar os<br />
escolhos do percurso. Dificul<strong>da</strong>des que, paradoxalmente, tinham feito a grandeza antiga<br />
de um <strong>porto</strong>, libertando-o naturalmente dos ataques inimigos, mas que agora, em tempos<br />
de navegação muito activa e de navios de calado ca<strong>da</strong> vez maior, sufocavam a vi<strong>da</strong><br />
portuária e a condenavam à extinção. Na déca<strong>da</strong> de 50, a navegação veleira ain<strong>da</strong><br />
conheceu um período de euforia, com a <strong>emigração</strong> subsidia<strong>da</strong>, e há <strong>no</strong>tícias de grande<br />
activi<strong>da</strong>de <strong>no</strong>s estaleiros do Ouro, Gaia e Vila do Conde. Em Fevereiro de 1857 a Praça<br />
do Porto registava como proprie<strong>da</strong>de de armadores locais 130 navios de diversa natureza<br />
(galeras, barcas, brigues, patachos, escunas, palhabote, hiates e rascas, além de 3<br />
vapores), embora nem todos se destinassem à carreira do Brasil119 . Mas em 1858 a<br />
quebra de activi<strong>da</strong>de <strong>no</strong>s estaleiros era já <strong>no</strong>tória: de 1855 a 1858, o número de<br />
embarcações construí<strong>da</strong>s foi respectivamente de 25, 35, 24 e 10, a substituição <strong>da</strong>s velhas<br />
embarcações era ca<strong>da</strong> vez mais lenta, envelhecendo e tornando mais pe<strong>no</strong>sas as viagens.<br />
Por essa altura, já se faziam sentir os sinais do futuro, com as <strong>no</strong>tícias <strong>da</strong><br />
vulgarização do vapor. Futuro que, para a barra do Douro, será a do estiolamento, <strong>da</strong><strong>da</strong> a<br />
incapaci<strong>da</strong>de de os vapores ma<strong>no</strong>brarem satisfatoriamente e dos resultados desastrosos<br />
dos que o tentaram120 . Porto preferido e quase mo<strong>no</strong>polista <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> do Norte de<br />
Portugal para o Brasil, a barra do Douro vai sofrer um processo de esvaziamento<br />
melhoramentos <strong>da</strong> barra e foz do Douro", O Commercio do Porto, nº 229, de 9 de Outubro de 1858.<br />
Depois do quebramento passaram a ter acesso à barra navios que exigissem de 16 a 20 pés de água,<br />
enquanto antes o limite se ficava pelos de 15 pés. No entanto, aqueles só o poderiam fazer <strong>no</strong>s dez dias de<br />
marés vivas em ca<strong>da</strong> mês. Em época de cheias, a barra do Douro tornava-se inacessível, dirigindo-se<br />
muitos navios, nessas ocasiões a Vigo, para desembarcar ou para esperar a entra<strong>da</strong> <strong>no</strong> Douro. Cf. ain<strong>da</strong><br />
KENDALL, Henrique Carlos de Meirelles, Exposição apresenta<strong>da</strong> a S.Excª o Snr. Cons. João de Sousa<br />
Calvet de Magalhães relativamente às obras de a<strong>da</strong>ptação do Porto de Leixões ao serviço comercial e<br />
suas ligações com as linhas férreas do Estado, Porto, Typographia Progresso, 1908.<br />
119 BARÃO DO VALLADO, Relatorio Apresentado á Junta Geral do Districto do Porto na sua Sessão<br />
Ordinaria do An<strong>no</strong> de 1857, Porto, Typographia de Sebastião José Pereira, 1857, mapa nº 13.<br />
120 Em Fevereiro de 1847, naufragou nas pedras de "Felgueiras" o Duque do Porto, que tinha saído a barra<br />
para rebocar um navio, perecendo os 17 tripulantes. Em 29.3.1852 foi o célebre naufrágio do vapor Porto,<br />
que desgovernado, encalhou na pedra do "Touro", tendo morrido 91 pessoas. Em 17.8.1860 o Corratin,<br />
inglês encalha num baixio. Em 3.9.1872, foi a vez do vaporBeta , também inglês, encalhar contra as<br />
pedras "Prolongas". Em 3.1.1879 foi o Olga, inglês, na Foz, que colidiu com outro francês. Mas a situação<br />
dos "veleiros" também não era muito favorável: em 9.10.1844, o iate Activo foi de encontro à pedra "João<br />
Boi" e afundou-se; em 9.10.1844, o iate S. João Baptista foi sobre as pedras <strong>da</strong> Cantareira, onde encalhou;<br />
em 11.11.1852, o Aurora Liberal bateu na pedra do "Dente" e naufragou imediatamente; em Março de<br />
1855 a galera Campos 1º garrou <strong>no</strong> fundeadouro e perdeu-se à entra<strong>da</strong> do Douro, na "Meia Laranja"; em<br />
10.10.1860, o caíque Nugra que garrou, foi contra outra embarcação e afundou-se pouco depois. Em<br />
28.12.1860, a galera Flor do Porto rebentou as amarras durante a cheia do Douro e foi desfazer-se na<br />
barra. Nesse mesmo dia, o patacho sueco Hedwige naufragou próximo ao Castelo e a galera brasileira<br />
Lin<strong>da</strong> Russiana, arrasta<strong>da</strong> pela corrente, encalhou <strong>no</strong> Cabedelo. No dia seguinte, o iate Alliança arrastado<br />
pela corrente acaba por desaparecer <strong>no</strong> mar. Etc. Cf. CABRAL, Francisco, Naufrágios e acidentes<br />
Marítimos na Costa Portuguesa (1823-1986), Matosinhos, Stella Maris de Leixões, 1987.