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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

representativi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> legal. Recuando até à época, segundo o testemunho do<br />

governador civil do Porto, emitido em 1872, a <strong>emigração</strong> clandestina devia representar<br />

cerca de 5% <strong>da</strong> legal130 . Era uma opinião que, de algum modo o mesmo governador (Barão<br />

do Vallado) partilhava há mais de uma déca<strong>da</strong>: "a <strong>emigração</strong> clandestina é em pequena<br />

escala; o que abun<strong>da</strong> são os engajamentos, e contractos clandesti<strong>no</strong>s” 131 . Ora esta<br />

margem de clandestini<strong>da</strong>de é a que tem sido encontra<strong>da</strong> em estudos que confrontam as<br />

fontes nacionais com as de origem estrangeira, como demonstram os estudos de Ioannis<br />

Baganha sobre a <strong>emigração</strong> para os Estados Unidos, a qual estima em 5% a <strong>emigração</strong><br />

clandestina entre 1855-1878, subindo para 13% <strong>no</strong> período 1878-1890 e para 15% entre<br />

1897-1910132 . Ou seja, ao contrário <strong>da</strong>s expectativas dos legisladores, à medi<strong>da</strong> que a<br />

legislação se torna mais repressiva o efeito não é a que<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> mas a subi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

clandestini<strong>da</strong>de. Infelizmente, a ausência e/ou debili<strong>da</strong>de de estatísticas de imigração <strong>no</strong><br />

Brasil para o século passado não conduz a resultados concludentes, embora J. Costa Leite<br />

tenha desenvolvido esforços <strong>no</strong> sentido de esclarecer o problema, concluindo que "as<br />

estatísticas portuguesas saem reforça<strong>da</strong>s do confronto com as estatísticas estrangeiras",<br />

pelo que se não "exigirmos uma precisão total, podemos utilizá-las como expressão<br />

numérica adequa<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> portuguesa" 133 .<br />

Analisando friamente a documentação <strong>da</strong> época, não podemos deixar de reconhecer<br />

que todo o barulho produzido nas déca<strong>da</strong>s de 50 e 60 em tor<strong>no</strong> <strong>da</strong> clandestini<strong>da</strong>de surge<br />

como excessivo, pelo me<strong>no</strong>s <strong>no</strong> que ao Porto se refere, e tinha objectivos claros de criar um<br />

clima facilitador à adopção de medi<strong>da</strong>s restritivas. Suspeitamos mesmo que a concorrência<br />

entre os grupos de interesses dos vapores e dos veleiros não é alheia ao problema,<br />

verificando-se pela déca<strong>da</strong> de sessenta uma concorrência desigual entre as duas linhas,<br />

facto visível na publici<strong>da</strong>de, onde os veleiros divulgam preços mais baratos, melhores<br />

condições de alojamento e alimentação, assumem o encargo <strong>da</strong> deslocação do Porto para<br />

Lisboa aos emigrantes e, porme<strong>no</strong>r importante, conseguem à parti<strong>da</strong> a ilibação de suspeitas,<br />

vendo consagra<strong>da</strong> nas sucessivas leis a isenção <strong>da</strong>s visitas fiscalizadoras. Mas os interesses<br />

ligados aos vapores e às carreiras internacionais não são neutros <strong>no</strong> problema <strong>da</strong><br />

clandestini<strong>da</strong>de, como <strong>no</strong>s mostra o exemplo <strong>da</strong> "leva" de colo<strong>no</strong>s que em 1870 se dirigiu<br />

130 Primeiro Inquérito Parlamentar sobre a Emigração Portuguesa..., p.179.<br />

131 BARÃO DO VALLADO, Relatorio Apresentado á Junta Geral do Districto do Porto na sua Sessão<br />

Ordinaria de 1859, Porto, Typographia de Sebastião José Pereira, 1859, p. 9.<br />

132 Cf. BAGANHA, Maria Ioannis B., "Uma imagem desfoca<strong>da</strong>: a <strong>emigração</strong> portuguesa e as fontes<br />

portuguesas sobre <strong>emigração</strong>", Emigracion Española Y Portuguesa A America, Alicante, Instituto de Cultura<br />

Juan Gil-Albert, 1991, p. 173. (Artigo igualmente publicado in Análise Social, vol, XXVI (112-113), pp. 723-<br />

739).<br />

133 In "Emigração Portuguesa: a lei e os números (1855-1914)", Análise Social, nº 97, p. 475.<br />

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