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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 381<br />

as linhas de força passam pela contemplação de institutos religiosos e de beneficência de<br />

Portugal e do Brasil, lembranças a amigos (caixeiros, sócios, colegas), familiares e<br />

afilhados, libertação dos escravos à hora <strong>da</strong> morte 168 . Quase sempre presente, a aldeia<br />

natal, <strong>no</strong>tifica<strong>da</strong> com algumas verbas para melhoramentos locais.<br />

Excepcionalmente surgem os legados que apontaram <strong>no</strong>vas direcções sociais,<br />

como o do Conde de Ferreira que, para além, do remanescente <strong>da</strong> herança (avaliado em<br />

mais de 800 contos) para o Hospital de Alienados ain<strong>da</strong> patroci<strong>no</strong>u a medicina<br />

homeopática <strong>no</strong> hospital de Santo António. Avançamos pelo final do século passado,<br />

entramos mesmo <strong>no</strong> século XX e a corrente filantrópica dos "brasileiros" ain<strong>da</strong> está<br />

muito activa e com aspectos i<strong>no</strong>vadores, quer contemplando parcialmente a Santa Casa,<br />

quer utilizando-a como elemento de redistribuição: a pie<strong>da</strong>de vai perdendo espaço,<br />

crescendo os donativos para os pobres e distribuídos pelos jornais de grande circulação,<br />

os prémios escolares entregues a associações culturais ou educativas169 , a diversificação<br />

<strong>da</strong>s doações pela ca<strong>da</strong> vez mais numerosa obra associativa e assistencial, numa atenção<br />

aos <strong>no</strong>vos problemas. Para além do caso já atrás referido de Rodrigues Semide, o<br />

testamento de António Monteiro dos Santos (falecido em 1924), natural de Azurara e<br />

entretanto residente na rua dos Bragas (Porto), é exemplar neste aspecto. Lembra-se,<br />

entre os numerosos legados, dos cegos (propondo a fusão dos dois estabelecimentos<br />

existentes - o Asilo de Cegos S. Manuel e a Escola de Cegos, num só Asilo-Escola, ao<br />

qual deixava 30 contos), dos tuberculosos (15 contos para o Sanatório Marítimo do<br />

Norte), <strong>da</strong>s crianças (30 contos para um lactário), dos animais (Socie<strong>da</strong>des Protectoras,<br />

em Lisboa e Porto) e do problema <strong>da</strong> habitação - deixando 300 contos para a compra de<br />

terre<strong>no</strong>s em diversas freguesias <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, para edificar 10 bairros de casas térreas mas de<br />

boa construção (não excedendo ca<strong>da</strong> 1800$000). Depois de acaba<strong>da</strong>s, essas casas seriam<br />

entregues à Santa Casa, a qual as alugaria a pessoas necessita<strong>da</strong>s por baixos alugueres, de<br />

de S. José) e do Porto, com a ressalva de contemplar ain<strong>da</strong> to<strong>da</strong>s as instituições legais do Porto que não<br />

tivessem sido referencia<strong>da</strong>s. Entre as contempla<strong>da</strong>s, refira-se a "Caixa dos Brasileiros Pobres", com 6<br />

inscrições de 1000$000. A.S.C.M.P., ibidem, nº 40, pp. 180-196.<br />

168 Raramente a libertação dos escravos, para os testadores que ain<strong>da</strong> têm bens <strong>no</strong> Brasil, é um processo<br />

simples e linear: acontecendo por vezes que, à morte do testador, o escravo fique livre, na maioria dos<br />

casos, porém, tem de ir servir ain<strong>da</strong> determina<strong>da</strong>s pessoas afectas ao testador, outras vezes só lhe é<br />

concedido metade <strong>da</strong> verba considera<strong>da</strong> para a alforria, devendo o escravo arranjar quem lhe garanta o<br />

resto, etc. No caso de legado de bens, <strong>no</strong>rmalmente a casa, apenas lhe é entregue o usufruto, devendo, por<br />

sua morte, reverter para herdeiros especificados. Pratica-se bastante uma filantropia a conta-gotas, neste<br />

domínio.<br />

169 Veja-se o caso de Bru<strong>no</strong> Alves Nobre que lega 80 contos à Escola Médico-Cirúrgica do Porto, para<br />

com o respectivo rendimento <strong>da</strong>r doze pensões anuais a alu<strong>no</strong>s vindos de asilos ou casas de cari<strong>da</strong>de,<br />

<strong>da</strong>ndo preferência aos mais bem classificados. Deixou 4 contos para distribuir em legados de 40$000 a cem<br />

professores de escolas primárias, encarregando dessa tarefa a Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia e a re<strong>da</strong>cção de<br />

"O Comércio do Porto". E, naturalmente, deixou numerosos legados para ordens terceiras, asilos e<br />

recolhimentos, além do remanescente à S. C. <strong>da</strong> Misericórdia.

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