15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

generalizações sobre o fenóme<strong>no</strong> migratório. Esta é, porém, uma época de mutações<br />

decisivas, em que se fazem sentir profun<strong>da</strong>mente as repercussões <strong>da</strong> independência<br />

brasileira com as consequentes alterações institucionais, mormente ao nível <strong>da</strong><br />

corrente humana, ao mesmo tempo que se verifica o envolvimento do País pela on<strong>da</strong><br />

de industrialização e de liberalismo que avassala a Europa, a exigir respostas de<br />

recolocação de Portugal na <strong>no</strong>va ordem económica e de reorientação interna. A<br />

<strong>emigração</strong>, na sua permanência e crescente empolamento, surge aqui como sintoma<br />

<strong>da</strong> debili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s transformações sociais11 opera<strong>da</strong>s (ou por operar), como resultado<br />

do jogo entre as indecisões colectivas e a urgência <strong>da</strong>s decisões individuais.<br />

A pluridimensionali<strong>da</strong>de do fenóme<strong>no</strong> migratório, a multiplici<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s<br />

abor<strong>da</strong>gens teóricas que lhe são consagra<strong>da</strong>s e a profundi<strong>da</strong>de histórica de que se<br />

reveste implicam que se ultrapasse a anti<strong>no</strong>mia tradicional entre história e ciências<br />

sociais aponta<strong>da</strong> por Wallerstein12 e se caminhe para um campo de convergência<br />

aonde seja possível conjugar generalizações e particularismos, praticando o que este<br />

autor designa como "historical social science".<br />

Trata-se, pois, de um processo de reconhecimento, com o objectivo de<br />

discernir fluxos, ciclos, lógicas e mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des <strong>no</strong> movimento migratório e seus<br />

refluxos, bem como os efeitos produzidos e induzidos, tudo a partir <strong>da</strong>s evidências<br />

históricas (sempre fragmentárias e indiciárias) que restam desse volumoso "lastro<br />

huma<strong>no</strong>" dos veleiros <strong>oitocentista</strong>s, saídos <strong>da</strong> barra do Douro e, em parte, pelos<br />

vapores de Lisboa rumo ao Brasil. Reconhece-se, naturalmente, o efeito de<br />

objectivação na apreensão do real, o sentido de (re)construção do fenóme<strong>no</strong>, desde<br />

logo presente na selecção do campo teórico de base e na escolha do material empírico<br />

que o torna substantivo13. Aceder à configuração multifaceta<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> exige, como já referimos,<br />

multiplicar as escalas ou patamares de observação. Neste sentido, e dentro <strong>da</strong>s<br />

limitações inerentes à natureza <strong>da</strong> investigação histórica, importa rastrear a corrente<br />

migratória enquanto volume de massas e correlacioná-la com indicadores pertinentes<br />

<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de de parti<strong>da</strong> de modo a estabelecer redes de conexões; penetrar na família<br />

enquanto espaço de decisão ao nível de grupo económico, social e afectivo; seguir<br />

trajectórias individuais, tacteando comportamentos, tensões e projectos do emigrante<br />

11 Recordem-se as três grandes "impossibili<strong>da</strong>des" do século XIX português aponta<strong>da</strong>s por Godinho :<br />

uma industrialização falha<strong>da</strong>, uma socie<strong>da</strong>de burguesa irrealiza<strong>da</strong>, uma cultura sem eficácia social<br />

(GODINHO, Vitori<strong>no</strong> Magalhães, Estrutura <strong>da</strong> Antiga Socie<strong>da</strong>de Portuguesa, Lisboa, Arcádia, 1971,<br />

pp.141-163).<br />

12 WALLERSTEIN, Immanuel, "World-Systems Analisis", in GIDDENS,A. e TURNER,J (orgs.),<br />

Social Theory To<strong>da</strong>y , Cambridge, Polity Press, 1987, pp. 309-324. Diz o autor "History is the study<br />

of, the explanation of, the particular as it really happened in the past. Social science is the statement<br />

of the universal set of rules by which human/social behaviour is explained" (p.313). A este propósito,<br />

cf. BRAUDEL, Fernand, História e Ciências Sociais, Lisboa, Presença, 1982<br />

13 Cf. BRUYNE, Paul de, HERMAN, Jacques, SCHOUTHEETE, Marc, Dinâmica de Pesquisa em<br />

Ciências Sociais, Rio de Janeiro, Francisco Alves Editora, 1991, pp. 41-61.<br />

13

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!