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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 47<br />

O que não se pode ig<strong>no</strong>rar é o efeito sócio-demográfico <strong>da</strong> sangria populacional<br />

nestas zonas, com efeitos negativos ao nível <strong>da</strong> dinâmica local quando se torna excessiva,<br />

com efeitos positivos <strong>no</strong> que se refere ao estabelecimento <strong>da</strong>s correntes migratórias<br />

posteriores, pelo melhor enquadramento com base <strong>no</strong>s laços familiares e culturais há<br />

muito disseminados. Sobre o primeiro aspecto, já Jaime Cortesão traçou o quadro de<br />

dificul<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s populações do litoral entre Viana e a Foz do Douro <strong>no</strong> século XVIII,<br />

com a deban<strong>da</strong><strong>da</strong> para as Minas, em especial dos marinheiros que ao chegarem ao Brasil<br />

desertavam. Cortesão dá particular realce à crise <strong>da</strong>s rendilheiras, que, neste contexto,<br />

viram agrava<strong>da</strong>s as suas dificul<strong>da</strong>des com a pragmática de 24 de Maio de 1749 que<br />

proibia as ren<strong>da</strong>s <strong>no</strong> País. Teve de ser uma rendilheira de Vila do Conde (Joana Maria de<br />

Jesus) a deslocar-se à corte, em <strong>no</strong>me <strong>da</strong>s muitas rendilheiras do litoral minhoto, para<br />

pedir a alteração <strong>da</strong> lei. Aí surge também o pároco de Azurara a afirmar que a freguesia é<br />

pobríssima e que "costumam os homens dela navegarem para os <strong>porto</strong>s dos Brasis nas<br />

frotas <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des de Lisboa e Porto e muitos ausentando-se para as Minas, deixam as<br />

mulheres e filhos sem mais remédio para sua sustentação de que a sua agência e<br />

trabalho quotidia<strong>no</strong> de ren<strong>da</strong>s de linho." 22<br />

Alguns inventários orfa<strong>no</strong>lógicos depositados em Vila do Conde, ain<strong>da</strong> que em<br />

pequena quanti<strong>da</strong>de, permitem-<strong>no</strong>s penetrar <strong>no</strong> interior de alguns desses lares, observar a<br />

sua composição e, às vezes, ler o diálogo em diferido de uma correspondência esparsa<br />

ou verificar o silêncio de longas esperas. Por exemplo, quando se procede à elaboração<br />

do inventário orfa<strong>no</strong>lógico por morte do pescador Bento Julião, de Vila do Conde, em<br />

1731, a situação familiar surge marca<strong>da</strong> por essa deban<strong>da</strong><strong>da</strong> masculina: uma filha casa<strong>da</strong>,<br />

com o marido <strong>no</strong> Brasil, um filho "ausente nas Minas", outro igualmente "ausente nas<br />

minas de ouro", uma outra filha casa<strong>da</strong> com um pescador e, finalmente, duas filhas<br />

22 CORTESÃO, Jaime, Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madrid, I, Lisboa, Livros Horizonte, Lisboa,<br />

1984, pp. 80-105.

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