15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 350<br />

Este abando<strong>no</strong> era uma facto que ocorria com alguma frequência, pois alguns<br />

"brasileiros" faziam casamentos tardios, não surgindo filhos. Acontecia isto <strong>no</strong>rmalmente<br />

com os mais endireinhados, <strong>da</strong>do o longo tempo de permanência <strong>no</strong> Brasil, pelo que as<br />

quintas mais caras e nas quais se gastavam avulta<strong>da</strong>s quantias caíam <strong>no</strong>vamente em<br />

decadência, após a morte destes proprietários. Na ver<strong>da</strong>de, tais quintas passavam<br />

geralmente aos sobrinhos, sucedendo-se processos de partilha morosos, ora conjugados<br />

com a falta de ligação afectiva à proprie<strong>da</strong>de, ora com a falta de capitais para gerir estes<br />

empreendimentos pesados, raramente auto-sustentáveis na sua exploração. Para além<br />

disso, estas quintas quase nunca eram explora<strong>da</strong>s directamente pelos proprietários, sendo<br />

geralmente arren<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Tornavam-se, portanto, mais eficientes, sob o ponto de vista <strong>da</strong><br />

dinâmica produtiva, as pequenas proprie<strong>da</strong>des ou quintas, geri<strong>da</strong>s pelos próprios do<strong>no</strong>s,<br />

ain<strong>da</strong> em i<strong>da</strong>de activa <strong>no</strong> seu <strong>retor<strong>no</strong></strong>, com continui<strong>da</strong>de na sua descendência. Por<br />

exemplo, o acima citado comen<strong>da</strong>dor Moreira, em vez de esvaziar os seus capitais numa<br />

quinta, procurou antes dinamizar as casas de filhos e sobrinhos, para além do dote inicial,<br />

contribuindo para obras diversas.<br />

Corremos as aldeias rurais, procuramos os vestígios <strong>da</strong> acção dos brasileiros e o<br />

quadro repete-se, com poucas variantes, nesta área do Douro Litoral. Olhamos à esquer<strong>da</strong><br />

e à direita, em frente ou para trás, e, ao perto ou ao longe, lá está a casa do século<br />

passado, com três grandes janelas (quase sempre góticas) <strong>no</strong> primeiro an<strong>da</strong>r (uma com<br />

saca<strong>da</strong> ou varan<strong>da</strong>), com duas janelas e porta central <strong>no</strong> rés-do-chão, rodea<strong>da</strong> de vinhas e<br />

cerca<strong>da</strong> de muros altos, com o seu portal de ferro encimado por uma inscrição, com a<br />

<strong>da</strong>ta de construção, às vezes também as abreviaturas do proprietário. De tão frequentes<br />

banalizaram-se à <strong>no</strong>ssa vista, deixando-<strong>no</strong>s apenas prender pela mais exótica e recente, a<br />

que apresenta vistosos azulejos e o seu jardim fronteiro, com pombal e a inevitável<br />

palmeira a perdurar ain<strong>da</strong>. Secun<strong>da</strong>rizamos as casas mais sóbrias, as que apresentam<br />

soluções de continui<strong>da</strong>de <strong>da</strong> casa rural, com i<strong>no</strong>vações que foram rapi<strong>da</strong>mente<br />

assimila<strong>da</strong>s, para privilegiarmos as que surgem como sinais de ruptura, ferindo a<br />

paisagem, numa transplantação discutível mas de maior visibili<strong>da</strong>de social.<br />

Evidentemente que muitas destas casas apresentam sinais de grandes alterações<br />

posteriores, inevitáveis na a<strong>da</strong>ptação de espaços à funcionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s gerações<br />

sucessivas, outras estão hoje em declínio quase irreversível, profun<strong>da</strong>mente arruina<strong>da</strong>s,<br />

algumas têm sido mesmo demoli<strong>da</strong>s na actual vaga de urbanizações97 .<br />

97 Sobre o significado <strong>da</strong> "casa do brasileiro" <strong>no</strong> campo do património cultural e sua preservação, cf.<br />

LOUREIRO, José Carlos, "A casa do Brasileiro", Os Portugueses e o Mundo - Conferência Internacional<br />

(1985), vol. VI, Fun<strong>da</strong>ção Engº António de Almei<strong>da</strong>, 1989, pp.33-36

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!