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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

devia ser coloca<strong>da</strong> ao peito, do lado direito, de forma visível. A licença só seria passa<strong>da</strong><br />

aos que residissem há mais de dois a<strong>no</strong>s <strong>no</strong> Distrito. A ausência de documentação, em<br />

caso de reincidência, levaria à prisão do mendigo e seu julgamento como vadio ou<br />

vagabundo, sendo remetido para a terra <strong>da</strong> sua naturali<strong>da</strong>de se fosse de origem exterior<br />

ao Distrito. Estas medi<strong>da</strong>s repressivas (conjuga<strong>da</strong>s com a evolução <strong>da</strong> conjuntura e a<br />

prática de engajamento de colo<strong>no</strong>s) devem ter tido algum êxito, pois <strong>no</strong>tícias posteriores<br />

em cerca de 20 a<strong>no</strong>s, apresentam números substancialmente mais baixos, embora este<br />

decréscimo deva ser relativizado. Na reali<strong>da</strong>de, a concepção classificatória aqui<br />

apresenta<strong>da</strong> entre válidos e inválidos antecipa a posterior dicotomia entre mendigos e<br />

vadios, anunciando também uma diferença de actuação dos poderes públicos.<br />

Teoricamente, para os míseros defendia-se o internamento nas instituições adequa<strong>da</strong>s,<br />

para os vadios apresentava-se como solução, a prisão ou as casas de correcção para<br />

me<strong>no</strong>res, tendo-se chegado a equacionar o seu envio puro e simples para as colónias.<br />

A Ci<strong>da</strong>de produz, e de que maneira, a sua pobreza endógena e endémica,<br />

revestindo, porém, outras características, mais típicas <strong>da</strong>s "classes perigosas", <strong>no</strong> sentido<br />

que lhes confere Chevalier27 , sobretudo <strong>no</strong>s momentos de crise industrial ou comercial.<br />

Então um desempregado torna-se automaticamente um mendigo, ou em alternativa, um<br />

vadio sem trabalho e temido pelas classes e poderes instituídos. Sublinhe-se, <strong>no</strong> entanto,<br />

que a ci<strong>da</strong>de oferecia um maior apoio institucional aos pobres idosos e desprotegidos,<br />

com diversos estabelecimentos de vocação específica para esse efeito28 , fruto quase<br />

exclusivo <strong>da</strong> filantropia particular, muito especialmente dos "brasileiros" que para eles<br />

contribuíam generosamente e muitas vezes aí assumiam cargos de direcção.<br />

3.3 - Património familiar e exclusão<br />

27 Cf. CHEVALIER, Louis, Classes Laborieuses et Classes Dangereuses à Paris pen<strong>da</strong>nt la première<br />

moitié du XIXe. siècle, Paris, L. Général Française, 1978.<br />

28 Em 1856, além <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericórdia, que administrava vários estabelecimentos (Hospitais<br />

para Entrevados, os dos Lázaros, o de Surdo-mudos, o de Santa Clara <strong>da</strong>s Velhas, o Recolhimento <strong>da</strong>s<br />

Velhas do Camarão, o <strong>da</strong>s Órfãs de N.S. <strong>da</strong> Esperança) existiam ain<strong>da</strong> o Colégio dos Meni<strong>no</strong>s Órfãos, o<br />

dos Meni<strong>no</strong>s Desamparados, o <strong>da</strong>s Meninas Desampara<strong>da</strong>s, o <strong>da</strong>s Raparigas Abandona<strong>da</strong>s, o Asilo <strong>da</strong> 1ª<br />

Infância, e o Asilo de Mendici<strong>da</strong>de, entre outros. (Cf. BARÃO DO VALLADO, ob.cit., pp.17-24) Como<br />

curiosi<strong>da</strong>de, sublinhe-se a "utopia liberal", ao criar <strong>no</strong> Porto, em 1836 e à imitação do de Lisboa, o Asilo de<br />

Mendici<strong>da</strong>de, para "a extincção e repressão <strong>da</strong> mendici<strong>da</strong>de" (Decreto de 18 de Maio).<br />

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