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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 316<br />

Manuel Pinheiro Alves, estabelecido <strong>no</strong> Porto e marido de Ana Plácido, sua paixão fatal.<br />

Dir-se-á que Camilo ousou afrontar o hábito portuense de o "brasileiro" quarentão se<br />

tornar num valioso partido nupcial para as donzelas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, em casamentos<br />

etariamente muito desnivelados, mas aonde a força do dote surgia como determinante,<br />

afastando os pretendentes locais 40 . Assumir esse papel custou-lhe a cadeia, <strong>da</strong><strong>da</strong> a<br />

perseguição que o "brasileiro" lhe moveu. E será <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> casa amarela desse<br />

mesmo "brasileiro", em S. Miguel de Seide, que Camilo, mais tarde, há-de pôr fim às<br />

suas permanentes inquietações, accionando o gatilho de forma decisiva. O fantasma que<br />

o perseguiu ao longo <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> de adulto, esse procurava exorcismá-lo, caricaturando-o<br />

até à exaustão <strong>no</strong>s "brasileiros" dos seus romances, personagens quase sempre<br />

cavilosas41 .<br />

Mas, na linha de Paul Veyne, o <strong>no</strong>sso romance pretende ser "ver<strong>da</strong>deiro", descer<br />

às personagens reais, ain<strong>da</strong> que para isso não possamos enriquecê-lo com os jogos<br />

psicológicos e burlescos com que Camilo se comprazia, e <strong>no</strong>s limitemos a apresentar<br />

indicadores médios de carácter sócio-demográfico e sua dispersão, <strong>no</strong> cinzentismo dos<br />

números.<br />

Circunscrevendo-<strong>no</strong>s à amostra que o primeiro mapa do Inquérito (Quadro 6.6)<br />

acima referido <strong>no</strong>s permite, podemos avançar um pouco <strong>no</strong> conhecimento dos níveis<br />

etários dos emigrantes retornados, desses "brasileiros" que para Camilo eram sempre<br />

quarentões, isto é, já idosos mais ain<strong>da</strong> capazes de fazer estragos.<br />

40 Suprema ironia, a do casamento <strong>da</strong> sua própria filha, Bernar<strong>da</strong> Amélia, de 16 a<strong>no</strong>s, com o "brasileiro"<br />

António Francisco de Carvalho, de 40 a<strong>no</strong>s. Cf. REGO, Diogo Pinho dos Santos, Os "Brasileiros" de<br />

Camilo, V.N. de Famalicão, Centro Gráfico, 1961, p. 22.<br />

41 Cf. CESAR, Guilhermi<strong>no</strong>, O "Brasileiro" na Ficção Portuguesa, Lisboa, Parceria A. M. Pereira, 1969,<br />

pp. 53-88. Diz o autor: "Debaixo <strong>da</strong>s telhas do "brasileiro", roendo o seu amargo pão de escriba, o<br />

<strong>no</strong>velista parece enxergar Pinheiro Alves em todos os tipos de emigrantes de torna-viagem criados por<br />

sua pena. Assistimos, assim, a um autêntico processo de transferência, para usarmos a linguagem de<br />

Freud." (p.58)

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