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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 246<br />

que, de um modo geral, é pequena a participação do operariado <strong>da</strong>s fábricas na <strong>emigração</strong><br />

(embora surjam sempre os maquinistas e fabricantes) e, pelo contrário, é grande o fluxo<br />

de artífices, de homens de ofício, desde os profissionais ambulantes, como os <strong>da</strong><br />

construção civil, aos sedentários <strong>da</strong>s oficinas mais ou me<strong>no</strong>s arcaicas que pululavam <strong>no</strong><br />

Porto e arredores, as quais só muito lentamente foram sendo erradica<strong>da</strong>s do mercado pela<br />

instalação de <strong>no</strong>vas indústrias, cujo ver<strong>da</strong>deiro surto se verificará <strong>no</strong> Porto pela déca<strong>da</strong> de<br />

<strong>no</strong>venta69 , tendo, contudo, muitas dessas oficinas sobrevivido quase até aos <strong>no</strong>ssos dias.<br />

Sector terciário<br />

Passando ao agrupamento de activi<strong>da</strong>des classifica<strong>da</strong>s <strong>no</strong> sector terciário, o<br />

comércio emerge como a activi<strong>da</strong>de mais representa<strong>da</strong>, muito distancia<strong>da</strong> em termos<br />

quantitativos de qualquer outra do sector. Caixeiros e negociantes atingem, em termos<br />

médios e anualmente, a casa <strong>da</strong>s centenas. A designação de negociante comporta também<br />

alguma ambigui<strong>da</strong>de, tudo levando a crer que se trata de peque<strong>no</strong>s comerciantes, lojistas<br />

e empregados de comércio que ultrapassaram já a fase do caixeirato, pois muitos dos<br />

passaportes respectivos tem a<strong>no</strong>tações marginais do tipo "vai para o negocio". A<br />

reali<strong>da</strong>de é que se contam por números elevados: entre 1870-79 o fluxo anual oscila entre<br />

311 e 398 negociantes, em 1889 atinge-se o número de 427. O surgir <strong>da</strong> mais pequena<br />

crise <strong>no</strong> comércio portuense (e para isso bastava tremer o câmbio brasileiro) arrastava-os<br />

de imediato para o lado de lá do Atlântico. O saber e as estreitas ligações comerciais<br />

constituíam bases apregoa<strong>da</strong>s para o sucesso e os respectivos profissionais procuravam<br />

tirar partido desses elementos, não se podendo esquecer que o controlo do comércio de<br />

retalho brasileiro pelos portugueses era, por si só, um forte elemento de atracção, na<br />

medi<strong>da</strong> em que os empregados portugueses garantiam a eficácia <strong>no</strong> trabalho e a<br />

manutenção do sistema70 . Anúncios pedindo ou oferecendo empregados de comércio<br />

incêncio em 1863, a "fábrica do Jacinto", designação que lhe vinha do <strong>no</strong>me do fun<strong>da</strong>dor, pai de Pereira de<br />

Magalhães, arderá de <strong>no</strong>vo a 27 de Janeiro de 1886. Constituía um modelo <strong>da</strong>s fábricas do Porto do fins<br />

do século passado.<br />

69 A pauta alfandegária de 1892 e a fase de "ágio do ouro" inicia<strong>da</strong> com a crise de 1891 são considera<strong>da</strong>s<br />

como os grandes estimulantes ao desenvolvimento industrial, mormente <strong>no</strong> sector algodoeiro, como <strong>no</strong>s diz<br />

Luiz Firmi<strong>no</strong> de Oliveira : "O agio do ouro foi ain<strong>da</strong> um factor importante, e é absolutamente impossivel<br />

mesmo fixar até que ponto elle veio <strong>da</strong>r grande desassombro á industria, porque sem elle seria impossivel<br />

então, attingir-se a exportação que se conseguiu para Angola, que chegou em 1899 a ser de 2:370 contos,<br />

e impossivel ain<strong>da</strong> conquistar uma parte do mercado inter<strong>no</strong>, como a industria algodoeira fez" . Ob. cit.,<br />

p. 15.<br />

70 " Em 1860, <strong>no</strong> Rio, os estabelecimentos comerciais eram 1545 de brasileiros e 4403 de portugueses. Em<br />

1863, o número <strong>da</strong>queles caíu para 1083, e o destes subio para 4813. Em 1903, os brasileiros possuíam<br />

3941 e os portugueses 8211 casas de negócio" . CALMON, Pedro, História Social do Brasil, 2º tomo, São<br />

Paulo, Companhia Editora Nacional, 3ª edição, s/d.

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