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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 368<br />

Bouças António Godinho <strong>da</strong> Silva 136 , mostram que as construções residenciais dos<br />

<strong>no</strong>bres em decadência também não escaparam a esta fúria aquisitiva, revelando,<br />

metaforicamente, que a burguesia liberal dos negócios, em que os "brasileiros" se<br />

incluíam, empenhou os seus capitais para segurar as traves decadentes dos grupos sociais<br />

até aí dominantes, procurando manter o edifício erguido, aqui e ali pintado ou decorado<br />

de <strong>no</strong>vo, mas mantendo a estrutura de base, num processo de substituição de<br />

protagonistas.<br />

Mas as escassas disponibili<strong>da</strong>des destes edifícios e a avalanche de <strong>retor<strong>no</strong></strong> de<br />

"brasileiros" endinheirados vão impor a construção de casas típicas, a que os arrabaldes<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de antiga, ain<strong>da</strong> ruralizados e disponíveis para a urbanização, são o espaço<br />

apropriado. Aproveitam-se especialmente os lotes <strong>da</strong>s zonas do Bonfim e próximas do<br />

cemitério do Prado do Repouso, para abrir <strong>no</strong>vas ruas, num processo geral de<br />

urbanização que corresponde ao rápido crescimento <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e <strong>no</strong> qual se destacará o<br />

palacete do torna-viagem, numa exuberância que foi objecto privilegiado <strong>da</strong> literatura,<br />

cujo estereótipo mais conseguido talvez seja o de Júlio Dinis, quando <strong>no</strong>s apresenta o<br />

bairro oriental com "e<strong>no</strong>rmes moles graníticas, a que chamam palacetes; o portal largo,<br />

as paredes de azulejo-azul, verde ou amarelo, liso ou de relevo; o telhado de beiral azul;<br />

as varan<strong>da</strong>s azuis e doura<strong>da</strong>s; os jardins, cuja planta se descreve com termos<br />

geométricos e se mede a compasso e escala, adornados de estatuetas de louça,<br />

representando as quatro estações; portões de ferro, com o <strong>no</strong>me do proprietário e a era<br />

<strong>da</strong> edificação também doura<strong>da</strong>s; abun<strong>da</strong> a casa com janelas góticas e portas<br />

rectangulares, e a de janelas rectangulares e portas góticas, algumas com ameias, e o<br />

mirante chinês" 137 . Quadro excessivo e reducionista para caracterizar a "casa do<br />

brasileiro", ain<strong>da</strong> que de belo efeito literário, na denúncia do <strong>no</strong>vo-riquismo e <strong>da</strong><br />

excentrici<strong>da</strong>de própria dos deslocados. Ramalho Ortigão será muito mais comedido e<br />

rigoroso: "casas <strong>no</strong>vas forra<strong>da</strong>s de azulejo, em grades de ferro pinta<strong>da</strong>s de verde e de<br />

cor de ouro, em hortas ajardina<strong>da</strong>s, em capoeiras bem sorti<strong>da</strong>s e em caramanchões <strong>no</strong>s<br />

ângulos <strong>da</strong>s quintas" 138 . Casas que vemos ain<strong>da</strong> hoje um pouco por to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>de,<br />

incluindo a zona de Cedofeita e <strong>da</strong> Boavista e até na Foz (logo <strong>no</strong> bairro ocidental, que<br />

Júlio Dinis atribuía aos ingleses) a maior parte já irremediavelmente condena<strong>da</strong>s, por<br />

falta de conservação e habitação, à espera do camartelo e do arranha-céus que ali,<br />

infalivelmente, se erguerá. A varie<strong>da</strong>de de elementos por nós recolhidos, muitos deles<br />

136 Natural de Matosinhos (1807-1883), chegou ao Rio de Janeiro 1820, onde foi caixeiro e negociante (de<br />

1838-1860), retirando então para Portugal.<br />

137 DINIS, Júlio, Uma Família Inglesa, Porto, Liv. Civilização, 1986, p. 41.<br />

138 ORTIGÃO, Ramalho, As Farpas, tomo I, Lisboa, Clássica Editora, 1986, p.137

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