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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 291<br />

Em resumo: a análise dos registos de passaportes fornece-<strong>no</strong>s uma imagem <strong>da</strong><br />

quase totali<strong>da</strong>de do fluxo emigratório, a que só falta a componente clandestina, que,<br />

como sublinhamos, para o período em estudo (1836-1879) é considera<strong>da</strong> relativamente<br />

baixa (ron<strong>da</strong>ndo os 5%, na componente de indocumentados). Análise que surge como um<br />

autêntico rastreio dessa massa humana impressionante (cerca de 120 mil pessoas) que,<br />

requisitando a sua documentação <strong>no</strong> Gover<strong>no</strong> Civil do Porto, se prepara para embarcar<br />

rumo ao Brasil. Podemos dizer que a <strong>no</strong>ssa perspectiva de interrogação,<br />

necessariamente breve <strong>da</strong><strong>da</strong> a quanti<strong>da</strong>de em causa, se configura como a de um inquérito<br />

policial orientado para a identificação e estruturado em três questões fun<strong>da</strong>mentais: quem<br />

é? Donde vem? Para onde vai? Do interrogatório saiu uma resposta estatística que<br />

permitiu delinear o volume e o ritmo do fluxo migratório, a diversi<strong>da</strong>de e a evolução <strong>da</strong>s<br />

características mais importantes para traçar o perfil do emigrante, num processo de<br />

compreensão contextualiza<strong>da</strong>.<br />

A documentação utiliza<strong>da</strong> permitiu recuar <strong>no</strong> tempo a análise habitual <strong>da</strong><br />

<strong>emigração</strong>, que <strong>no</strong>rmalmente só se debruça sobre as estatísticas publica<strong>da</strong>s a partir de<br />

1855, de forma agrega<strong>da</strong>, e a partir dos a<strong>no</strong>s 70 num conjunto estreito de variáveis.<br />

Iniciando a pesquisa estatística em 1836, foi possível percepcionar de forma mais<br />

adequa<strong>da</strong> os fenóme<strong>no</strong>s de continui<strong>da</strong>de face à emergência de <strong>no</strong>vas condições sociais e<br />

políticas e <strong>da</strong>s respostas migratórias respectivas. Tendo nós partido do quadro familiar,<br />

numa perspectiva de eco<strong>no</strong>mia doméstica, em que o emigrante produzido é um jovem<br />

destinado aos ofícios ou ao caixeirato urba<strong>no</strong>, pudemos observar a sobreposição de<br />

outros modelos, marcados por quadros de proletarização e por irrupções cíclicas, ao sabor<br />

<strong>da</strong> conjuntura local e <strong>da</strong>s políticas brasileiras de atracção de mão-de-obra, com a<br />

consequente alteração <strong>da</strong>s características do emigrante. O modelo <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> jovem e<br />

individual vai-se esvaziando muito lentamente, numa teimosa persistência, para <strong>da</strong>r<br />

lugar ao adulto casado numa intensificação ca<strong>da</strong> vez maior <strong>da</strong> transposição de famílias<br />

inteiras, na sua maioria de origem rural, ain<strong>da</strong> que a característica dos finais do século<br />

continue a ser a <strong>da</strong> separação <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des conjugais, condição para assegurar<br />

importantes e imprescindíveis refluxos à terra de parti<strong>da</strong>.

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