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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 377<br />

Asilos e hospitais<br />

Como já sublinhamos, as tendências gerais <strong>da</strong> benemerência em Portugal<br />

orientavam-se para outras formas de protecção ao semelhante, mais tradicionais, que<br />

passavam, sobretudo, pela leitura estrita <strong>da</strong>s obras de misericórdia e se traduziam em<br />

esmolas para <strong>da</strong>r de comer e agasalhar aos mais necessitados. Não admira, assim, que<br />

asilos e hospitais fossem muito beneficiados, e de igual modo, as misericórdias, enquanto<br />

instituições de cari<strong>da</strong>de que <strong>no</strong>rmalmente sustentavam aqueles estabelecimentos.<br />

Já vimos atrás como o Colégio dos Órfãos, do Pe. Baltasar Guedes, tinha, já pelo<br />

século XVII, nas esmolas do Brasil e nas dos negociantes do Porto que para ali<br />

traficavam, uma <strong>da</strong>s mais importantes fontes de receita. No século XIX, a Santa Casa <strong>da</strong><br />

Misericórdia será um ver<strong>da</strong>deiro entreposto de redistribuição <strong>da</strong> filantropia dos<br />

"brasileiros", muitos ali delegando as suas fortunas, algumas vultuosíssimas, para a<br />

concretização de diversos legados. Muitas heranças tornavam-se, contudo, polémicas,<br />

pois vinham com obrigações específicas que impediam a Santa Casa de implementar<br />

políticas próprias e de sustentar eficazmente os estabelecimentos considerados mais<br />

importantes. Mas algumas dessas heranças tinham o mérito de impor <strong>no</strong>vas vias nas<br />

práticas de cari<strong>da</strong>de, como foi o caso do Conde de Ferreira e do seu legado para a<br />

construção do Hospital de Alienados, o qual veio a constituir uma autêntica escola<br />

nacional neste domínio <strong>da</strong> saúde, ali trabalhando alguns dos mais reputados<br />

especialistas159 .<br />

Os legados de "brasileiros" à Misericórdia eram frequentes. Se alguns sofriam<br />

erosão, <strong>da</strong>dos os obstáculos administrativos e/ou os processos judiciais que, por vezes se<br />

arrastavam ao longo de a<strong>no</strong>s, outros nem sequer chegavam a ser liqui<strong>da</strong>dos, sobretudo se<br />

eram constituídos por bens mobiliários (acções, obrigações, títulos de dívi<strong>da</strong> pública),<br />

permanecendo como fontes de rendimento. Por exemplo, em 1854, é a própria<br />

Misericórdia que decide comprar 20 contos de títulos de dívi<strong>da</strong> pública do Brasil, na<br />

sequência de dinheiros lá recebidos160 . Pelo relatório de 1913, podemos constatar um<br />

importante volume de valores mobiliários <strong>no</strong> Brasil, orçamentado em 1038 contos161 . Nos<br />

159 Recorde-se o caso de Júlio de Matos, especialista célebre, cujo <strong>no</strong>me viria a ser <strong>da</strong>do ao Hospital criado<br />

em Lisboa nesta área de saúde. Por curiosi<strong>da</strong>de, refira-se que Júlio de Matos nasceu <strong>no</strong> Brasil, filho de um<br />

emigrante português.<br />

160 Cf. Relatório que leu á Mesa <strong>da</strong> Santa Casa <strong>da</strong> Misericordia <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de do Porto o Conselheiro<br />

A.R.O. Lopes Branco, <strong>no</strong> fim do an<strong>no</strong> de 1854-1855, Porto, 1855, pp. 39-44. Sublinhe-se que nesse a<strong>no</strong>, a<br />

S.C. recebeu um legado de 6 contos de réis de Domingos do Couto Alves, falecido <strong>no</strong> Rio de Janeiro.<br />

161 Cf. "Mapa demonstrativo e distributivo dos capitais em papeis de credito, pertencentes ao fundo <strong>da</strong><br />

Santa Casa <strong>da</strong> Misericordia e dos estabelecimentos por ela administrados" in Relatório <strong>da</strong> Gerência <strong>da</strong>

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