15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 393<br />

encontramos como militante do partido regenerador, como director <strong>da</strong> Assembleia<br />

Portuense, clube social <strong>da</strong> Praça <strong>da</strong> Trin<strong>da</strong>de, e logo a seguir ei-lo em plena vaga<br />

accionista, jogando e decidindo como director na companhia Progresso Marítimo do<br />

Porto e <strong>no</strong> Caminho de Ferro do Porto à Póvoa de Varzim. A primeira, guia<strong>da</strong> pelo<br />

entusiasmo de C. Ken<strong>da</strong>ll, foi uma joga<strong>da</strong> infeliz, <strong>da</strong>do o arrastar de prejuízos que<br />

provocou, numa sucessão de incapaci<strong>da</strong>des e azares, até à liqui<strong>da</strong>ção com a ven<strong>da</strong> dos<br />

vapores, processo que trouxe grandes prejuízos aos accionistas. A segun<strong>da</strong>, de que será<br />

director de 1874-78, constituiu um <strong>no</strong>vi<strong>da</strong>de por ser a primeira empresa priva<strong>da</strong><br />

portuguesa a abrir uma linha férrea por sua conta e risco, depois de compra<strong>da</strong> a<br />

respectiva concessão a Ellicot e Kessler, mas também não lhe trouxe grandes lucros. É<br />

por sua mão que Oliveira Martins ali vai dirigir as obras, com outros engenheiros<br />

espanhóis que cá se refugiaram <strong>da</strong> guerra carlista. Segundo um observador <strong>da</strong> construção,<br />

Miguel Dantas "foi incansavel para fazer esta linha ferrea com to<strong>da</strong> a eco<strong>no</strong>mia. Era elle<br />

mesmo que an<strong>da</strong>va correndo todos os predios por onde a mesma estava traça<strong>da</strong>,<br />

justando o terre<strong>no</strong> com os proprietarios, sempre por um preço modico em comparação<br />

do que se tinha pago pelo gover<strong>no</strong> por ocasião <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> estra<strong>da</strong> do <strong>porto</strong> a Vila<br />

do Conde; e quando elles não queriam ceder promovia-lhes questão [...] e quase sempre<br />

ficava decidido a seu favor." 192<br />

Mas o final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> vai ser de mu<strong>da</strong>nça de rumo. A política, a que dedicava<br />

parte do seu tempo, tentando reorganizar o partido regenerador com outros "brasileiros"<br />

(Alves Machado, Silva Monteiro), trouxe-lhe derrotas locais. Se a isso somarmos o<br />

insucesso <strong>da</strong> "Progresso Marítimo" e os poucos resultados económicos <strong>da</strong> linha <strong>da</strong> Póvoa,<br />

mais o incêndio de um palacete que estava a construir em Gonçalo Cristóvão, temos de<br />

aceitar que são azares de mais para quem acaba de casar de <strong>no</strong>vo (1876). Para este lance<br />

foi buscar a sua prima e filha do tio Severi<strong>no</strong>, seu antigo protector na i<strong>da</strong> para o Brasil193 .<br />

É neste contexto que regressa à terra natal e vai aceitar a proposta para ser por ali<br />

candi<strong>da</strong>to regenerador a deputado em 1878. Com raras intermitências, será o<br />

representante legislativo do círculo de Caminha e Cerveira até ao final do século. O<br />

Porto perde um brasileiro, que vende mesmo a sua casa de Cedofeita a um outro (em<br />

1883), também já referenciado neste trabalho - o Visconde de Barreiros.<br />

192 AZEVEDO, Pe. Joaquim Antunes, ob. cit., 2º cader<strong>no</strong>, p. 104.<br />

193 Quatro meses antes de casar pela segun<strong>da</strong> vez, fez testamento, revertendo quase tudo para a filha única<br />

Elzira, com lembranças a familiares e amigos de Portugal e Brasil. Atribuía-lhes, sobretudo, rendimentos<br />

de títulos de dívi<strong>da</strong> pública portuguesa, não esquecendo pequenas esmolas aos mais diversos institutos de<br />

cari<strong>da</strong>de. Sublinhe-se o facto de não <strong>da</strong>r alforria à escrava que detinha <strong>no</strong> Brasil, na sua casa do Catete,<br />

transmitindo-a à cunha<strong>da</strong> Bernardina que lá vivia. Por curiosi<strong>da</strong>de, refira-se que, como testemunha do seu<br />

testamento, registado num cartório de Miragaia, figurava o seu colaborador e amigo Joaquim Pedro de<br />

Oliveira Martins.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!