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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista<br />

custos de viagem, instalação e géneros comprados obrigatoriamente nas fazen<strong>da</strong>s a preços<br />

superiores aos do mercado, impossibili<strong>da</strong>de de celebrar contrato com terceiros mediante<br />

pagamento <strong>da</strong> dívi<strong>da</strong> existente ao locador, etc. 75 .<br />

Nesta política de mais recuos do que de avanços, o contratado é, na ver<strong>da</strong>de, um<br />

<strong>no</strong>vo escravo, na medi<strong>da</strong> em que não pode decidir do seu desti<strong>no</strong>, amarrado por cláusulas<br />

vagas e mesmo essas sendo frequentemente torpedea<strong>da</strong>s por uma justiça que pende sempre<br />

para o lado dominante. Situação tanto mais traumática e deprimente quanto era ele próprio,<br />

colo<strong>no</strong>, que acorria à chama<strong>da</strong> dos "engajadores", isto é, dos agentes encarregados <strong>da</strong><br />

contratação na Europa ou nas Ilhas, e esse contrato se assinava na convicção de modelos<br />

antigos de <strong>emigração</strong>, facilita<strong>da</strong> por uma propagan<strong>da</strong> monta<strong>da</strong> de modo a suscitar a<br />

miragem do Eldorado. Com os custos de viagem adiantados à parti<strong>da</strong>, para assegurar a<br />

<strong>emigração</strong> dos trabalhadores pobres e destinados ao trabalho braçal, os colo<strong>no</strong>s vendiam os<br />

seus serviços futuros, comprometendo-se a trabalhar por um período determinado, que só<br />

acabaria quando os créditos do locatário estivessem solvidos, numa conta sempre acresci<strong>da</strong><br />

por este e só por ele controla<strong>da</strong>. Algumas situações particulares, como a <strong>emigração</strong> em<br />

família, só pioravam a situação, pois implicavam a multiplicação dos gastos (sobretudo<br />

quando se levavam velhos e crianças) sem a contraparti<strong>da</strong> de ganhos em igual proporção. A<br />

morte frequente de um ou mais membros <strong>da</strong> família bastava para sobrecarregar os restantes,<br />

prendendo-os indefini<strong>da</strong>mente ao mesmo locatário.<br />

A ideia colonizadora dos a<strong>no</strong>s 20, concedendo proprie<strong>da</strong>des livres aos contratados,<br />

perde-se, agora, na déca<strong>da</strong> de 30, subsistindo apenas a estratégia <strong>da</strong> angariação de colo<strong>no</strong>s<br />

como substitutos directos dos escravos, resolvendo os problemas <strong>da</strong> mão-de-obra, em<br />

especial <strong>da</strong>s explorações de café, em fase de expansão <strong>no</strong> sul do País, particularmente na<br />

região de S. Paulo. Afasta<strong>da</strong> , temporariamente, a acção do Estado, os engajamentos de<br />

colo<strong>no</strong>s passa para a iniciativa dos particulares. Neste contexto se devem inserir as "levas"<br />

de colo<strong>no</strong>s dos Açores, atrás referencia<strong>da</strong>s, como resultado <strong>da</strong> acção individual dos<br />

transportadores que, numa clara reciclagem <strong>da</strong> activi<strong>da</strong>de do tráfico negreiro e em conluio<br />

com fazendeiros, procuravam assegurar mão-de-obra, particularmente <strong>no</strong>s momentos em<br />

que os navios ingleses se tornassem mais impertinentes com o tráfico de escravos.<br />

Essa é, por exemplo, a situação de Angelo Francisco Carneiro, traficante de<br />

escravos, que, em 1836, solicita a intervenção de Joaquim Ferreira dos Santos (mais tarde<br />

Conde de Ferreira) para uma recomen<strong>da</strong>ção <strong>no</strong>s Açores, que este transmite a um seu<br />

consignatário de Lisboa: "recebi carta do meu amigo Angelo Francisco Carneiro de<br />

75 Cf. SOUSA, João Cardoso de Menezes, Theses sobre Colonização do Brazil - relatório apresentado ao<br />

Ministério <strong>da</strong> Agricultura, Commercio e Obras Publicas, Rio de Janeiro, Typographia Nacional, 1875, pp.<br />

258-260<br />

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