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emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

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Jorge Fernandes Alves – Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 208<br />

Uma <strong>da</strong>s clarificações prioritárias é a questão do género. Qual o peso relativo de<br />

ca<strong>da</strong> sexo neste fluxo migratório? Sabe-se que, por tradição, o homem emigra mais, já<br />

que os usos e costumes asseguraram uma divisão sexual do trabalho, pela qual lhe são<br />

atribuí<strong>da</strong>s as funções externas de produção, competindo à mulher as funções internas, o<br />

labor <strong>da</strong> casa. Assim sendo, a ideia geral é a de que a mulher emigrante se afasta do<br />

modelo <strong>no</strong>rmal, resvalando para a marginali<strong>da</strong>de. A imagem predominante é, então, a do<br />

emigrante jovem e masculi<strong>no</strong>, reforçando os padrões de conduta tradicionais, segundo os<br />

quais a mulher deve ser "caseira" e o homem "videiro", como <strong>no</strong>s diz Carlos Alberto<br />

Ferreira de Almei<strong>da</strong>33 , referindo o adágio:<br />

" O homem barca, a mulher arca."<br />

É ver<strong>da</strong>de que o costume funciona como lei social, e, neste caso, os<br />

comportamentos mo<strong>da</strong>is <strong>da</strong> <strong>emigração</strong> conferem-lhe veraci<strong>da</strong>de. O português, <strong>no</strong> seu<br />

percurso histórico de an<strong>da</strong>rilho, andou quase sempre desacompanhado de mulheres<br />

conterrâneas e <strong>da</strong>í a sua tendência para a miscigenação. C. R. Boxer, com investigação<br />

em que procura recuperar o papel <strong>da</strong> mulher na expansão ibérica, fala-<strong>no</strong>s <strong>da</strong> mulher<br />

branca como "prémio cobiçado" em Angola, <strong>da</strong> rari<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s esposas e filhas<br />

acompanharem os maridos e pais para as inóspitas e insalubres zonas tropicais, para onde<br />

só iam, esporadicamente, as "orfãas del Rei", "raparigas de raça branca, em i<strong>da</strong>de núbil,<br />

recolhi<strong>da</strong>s em orfanatos de Lisboa e Porto", a quem era propiciado um dote e um<br />

emprego de funcionário a quem as desposasse34 . Mas, como <strong>no</strong>s mostra este autor, a<br />

acção <strong>da</strong>s mulheres não foi de forma alguma despicien<strong>da</strong> <strong>no</strong> movimento de expansão.<br />

Por seu tur<strong>no</strong>, o brasileiro Gilberto Freire, descendo à observação <strong>da</strong>s práticas<br />

quotidianas, deixou-<strong>no</strong>s inúmeras páginas sobre a miscigenação portuguesa com<br />

ameríndias e negras, sobre a qual alicerçou uma grande parte <strong>da</strong> sua polémica tese sobre<br />

o luso-tropicalismo: "Foi misturando-se gostosamente com mulheres de cor logo ao<br />

primeiro contacto e multiplicando-se em filhos mestiços que uns milhares apenas de<br />

machos atrevidos conseguiram firmar-se na posse de terras vastíssimas e competir com<br />

povos grandes e numerosos na extensão de domínio colonial e na eficácia de acção<br />

colonizadora." 35 . Miscigenação que se prolongaria aos tempos mais recentes <strong>da</strong><br />

<strong>emigração</strong>, em que a lavadeira negra ou mulata desempenhava um papel fun<strong>da</strong>mental na<br />

vi<strong>da</strong> recata<strong>da</strong> e isola<strong>da</strong> do comerciante <strong>no</strong>s sobrados de comércio <strong>da</strong>s ci<strong>da</strong>des brasileiras,<br />

33 Cf. ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, "A paróquia e o seu território", Cader<strong>no</strong>s do Noroeste -<br />

Ciências Sociais, Abril de 1986, Braga, Universi<strong>da</strong>de do Minho, pp. 113-131.<br />

34 BOXER, C. R., A Mulher na Expansão Ultramarina Ibérica, 1415-1815 - alguns factos, ideias e<br />

personali<strong>da</strong>des, Lisboa, Livros Horizonte, 1977, p. 29.<br />

35 FREIRE, Gilberto, Casa Grande e Senzala, Lisboa, Livros do Brasil, s/d, p.22. Vd. também do autor,<br />

Sobrados e Mucambos, ob.cit.

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