15.04.2013 Views

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

emigração e retorno no porto oitocentista - Repositório Aberto da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Jorge Fernandes Alves – Os Brasileiros, Emigração e Retor<strong>no</strong> <strong>no</strong> Porto Oitocentista 346<br />

congregarem a habitação, os terre<strong>no</strong>s de cereal, o lameiro para o gado e o espaço florestal<br />

para mato e lenha, devem a sua sobrevivência a alianças nupciais com brasileiros ou seus<br />

familiares, a única possibili<strong>da</strong>de de arranjarem o dinheiro suficiente para compensar os<br />

outros herdeiros e evitarem a fragmentação <strong>da</strong> proprie<strong>da</strong>de.<br />

Este papel <strong>da</strong>s alianças nupciais assume contor<strong>no</strong>s importantes na região. Veja-se<br />

o caso do "brasileiro" Antonio <strong>da</strong> Silva Moreira, apoiando a família <strong>da</strong> irmã, viúva e<br />

cheia de filhos, exemplar na cadeia de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de familiar: "deu bons dotes a suas<br />

sobrinhas para ellas casar, casando a Maria para a casa do Basílio ou do Barranha em<br />

Vila Nova <strong>da</strong> Telha; a Anna para casa do Pedro <strong>da</strong> mesma aldeia de Vila Nova; a<br />

Joaquina para casa do Vulgo em Real de Moreira; a Margari<strong>da</strong> para casa do Alves do<br />

Couço <strong>da</strong> mesma freguesia; a Teresa para casa do Oliveira de Esposade, em Custóias.<br />

Os rapazes levou-os para si para o Brasil aonde os fez homens, casando o Joaquim com<br />

sua filha mais velha, destinando a mais <strong>no</strong>va, que faleceu em Pedras Rubras, para o seu<br />

sobrinho Manuel. Estes parece-me que também já aju<strong>da</strong>ram aos dotes d'algumas de suas<br />

irmãs e já estão patrocinando <strong>no</strong> Brasil os filhos d'estas" 92 . Registe-se que o<br />

comen<strong>da</strong>dor Moreira teve os princípios de vi<strong>da</strong> que se poderiam generalizar a muitos<br />

emigrantes: "seu pae era um pobre capinteiro <strong>da</strong> lavoura, e elle seguiu seu pae <strong>no</strong><br />

mesmo officio d'an<strong>da</strong>r com jigo as costas, hoje aqui, amanhã acolá, sempre em obra<br />

grossa, como é a <strong>da</strong> lavoura, e ain<strong>da</strong> muito criança até que se resolveu a pedir a seu pae<br />

para ir para o Brasil onde o esperava a fortuna e os perigos e trabalhos". Regressado,<br />

foi um dos maiores beneméritos <strong>da</strong> igreja de Moreira, aonde gastou mais de dois contos<br />

de réis <strong>no</strong> madeiramento e telhados e construiu um jazigo com estátua a encimar <strong>no</strong><br />

cemitério <strong>da</strong> freguesia. Tinha prédios <strong>no</strong> Porto (rua <strong>da</strong>s Malmeren<strong>da</strong>s) e na Foz, sendo<br />

um dos quarenta maiores contribuintes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, tal como o seu genro e sobrinho, o<br />

brasileiro Joaquim Soares, de Pedras Rubras. Educou as filhas num colégio de Lisboa,<br />

casando-as logo que de lá saíram.<br />

Outras vezes, essas casas de lavoura eram simplesmente compra<strong>da</strong>s pelos<br />

"brasileiros", em pessoa ou pelos seus familiares, iniciando-se logo melhoramentos,<br />

embora nem sempre com sentido produtivo. Mas, principalmente, foram as casas <strong>da</strong><br />

própria família que os "brasileiros" re<strong>no</strong>varam e ampliaram, através de remessas<br />

monetárias e depois <strong>no</strong> seu <strong>retor<strong>no</strong></strong>. Em situação de decadência ou apatia, muitas casas<br />

experimentaram uma lufa<strong>da</strong> de ar fresco, com a injecção de capitais vin<strong>da</strong>s do Brasil,<br />

que, em alguns casos, significou o arranque para uma <strong>no</strong>va dinâmica de produção93 .<br />

92 AZEVEDO, Pe. Joaquim Antunes de, 3º cader<strong>no</strong>, pp. 85vº-86.<br />

93 Um exemplo é o do Barão de Rio Ave, Bento Rodrigues de Sousa, de Vila do Conde (nasceu em Vairão,<br />

viveu depois em Macieira), que tendo emigrado muito cedo para o Brasil, regressou endinheirado por volta

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!